Mudanças. O melhor e o pior.

Carreguei muitos caixotes e sacos (constatei que os sacos grandes, daqueles dos supermercados, são bem mais práticos para transportar do que os caixotes - consigo mexer-me com vários sacos enfiados nos braços, mas não sou capaz de transportar mais do que um caixote, por mais leve que seja), mas o mais difícil não foi perder a conta às vezes que desci elevador, enfiei coisas no carro, tirei coisas do carro, enfiei tudo no elevador e tirei tudo outra vez. 

O pior, nestas mudanças, foi tudo. Não me lembro de outras que me tenham custado tanto, talvez porque o tempo nos faz ter cada vez mais coisas. É bem provável que tenha agora mais objetos do que há cerca de cinco anos, mas ninguém me volta a ver metida numas mudanças sem uma empresa com uma grande carrinha a ajudar. 

Ainda assim, o que me custou mesmo muito foi tirar da casa antiga tudo o que foi ficando para trás. Não cabe neste caixote? Fica para depois. O resultado foram vários sacos e caixotes, tantos que parecia estar a fazer tudo outra vez a partir do zero, tantos que me deram vontade de chorar, de deixar estar. 

Não é que as coisas me fizessem falta, mas não podia condenar o meu antigo senhorio a livrar-se de tudo o que eu já não tinha forças para levar. 

Se há coisa que as mudanças nos mostram é que vivemos com muito mais do que aquilo de que precisamos. E nem sequer estou a falar do lixo (talões de tudo e mais alguma coisa ou meias sem par, por exemplo), de coisas avariadas ou que deixamos de usar. Uma mudança, muito cansaço, camas desmontadas a ocupar um quarto inteiro e dormir no chão porque não se consegue dar mais um passo (e uma criança de sete anos que precisa mesmo de descansar, por mais que ache que não) mostram-nos facilmente que não é assim tão difícil sair da nossa zona de conforto. E que temos bem mais do que é realmente necessário, apesar de ser mesmo muito bom voltar a colocar tudo no sítio e sentir que a casa tem a nossa alma outra vez. Esta talvez seja a parte melhor - perceber que nem sequer me sinto em casa numa casa muito arrumadinha, sem a vida dos bocadinhos da minha (da nossa) história, relatados por cada livro, estante ou objeto de decoração, por mais antiguinho que seja. 

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