Mudanças (com caixotes e tudo)

Parece que vou mudar de casa. Outra vez. Quando lia sobre as mudanças dela, achava um exagero, uma mudança dá tanto trabalho, como é que ela conseguia, com tantos miúdos e tudo, andar sempre a encaixotar e desencaixotar. Agora, já não sei qual das duas se terá mudado mais vezes (a grande diferença, um nadinha deprimente para mim, é que ela entretanto se mudou para Timor e eu ando há 16 anos a arrastar móveis na mesma meia dúzia de quilómetros). 

Já foram muitas, mas acho que ainda consigo fazer as contas: desde que vivo no Porto, já morei em quatro casas. A última mudança foi em 2010, a primeira em 1999, a segunda já não me lembro, a terceira foi em 2006. Agora 2016.  

Para quem se muda para perto, o pior de mudar são as mudanças propriamente ditas: enfiar tudo em caixotes, desencaixotar tudo (ou não - já encontrei várias caixas vindas da casa anterior que nunca foram abertas) e tentar arrumar melhor do que estava com a certeza de que, passados uns meses, estará tudo mais ou menos caótico outra vez. 

O pior das mudanças é a seleção: olhar para a caixa de recordações e pensar se vale a pena guardá-la para voltar a arrumá-la no cantinho de um armário onde não consigo chegar sem subir a um escadote e arrastar tudo o que está a tapá-la. As  memórias valem assim tanto? Confesso que acho que sim, mesmo que seja para só viajar no tempo muito de vez em quando (no meu caso tem sido sempre que tenho que encaixotar tudo outra vez).

O pior das mudanças é depararmo-nos com a quantidade de coisas inúteis que fomos acumulando, ou porque fizemos uma compra errada, porque nos presentearam com uma série de inutilidades ou porque fomos guardando coisas que se estragaram, que não servem para nada, que não usamos mas das quais não conseguimos livrar-nos.

O melhor das mudanças é ter de optar e saber (sobretudo se já tivemos muitas casas) que não vamos precisar das coisas que ficarem para trás. 


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