Those dancing days


Foi a Sílvia Silva que se lembrou e eu não podia deixar passar em claro porque, como ela, continuo a vibrar com estas músicas, a achar que podia ter sido bailarina, que dançar me faria feliz.

Não, nos anos 80 não haviam estrelas Disney, nem DVD e canais de televisão para criança e eu, como ela, vibrava com estes filmes de dança: o Footloose, o Flashdance e, sobretudo, o Fame. Há uns anos fui ao Coliseu ver um musical do Fame que nem sei se era bom ou mau, mas saí de lá para o metro a levantar as duas pernas como se fosse bailarina profissional e a abanar-me como uma doida. Não é só revivalismo. É outra coisa um bocadinho diferente, talvez o voltar a vibrar com o sonho da dança.

Ainda hoje ensaio uns passos de ballet, copiados de tudo o que passou na televisão e que incluia bailarinas. Não sei se havia escolas de ballet na cidade onde eu vivia quando era criança. Os meus pais nunca se lembraram de tal. Eu também nunca pedi. Mas dançava. Muito. Porque tinha vontade, porque me alegrava a alma, porque me fazia feliz. Também tinha umas perneiras, cor-de-rosa, que a minha tia me fez. 

Para além destes três filmes de dança que a Sílvia cita, foi também importante para mim um outro, já mais próximo dos anos 90 e um bocadinho diferente, muito romântico, daquele dos amores impossíveis que tudo superam, outra coisa também bastante típica na altura, pelo menos do que me passou pelas vistas na época. No caso, que é o do filme Dirty Dancing, o amor, ou a dança, não sei bem, serviram até para superar a inabilidade da introvertida Baby, o que só fez com que me identificasse totalmente com ela, que era tímida, sem uma beleza óbvia e conseguiu conquistar aquele figurão que era o Patrick Swayze. Era tudo o que eu sonhava, naquele tempo em que me sentia um patinho feio, um amor daqueles, a fazer acreditar que tudo é possível, Thoseque o amor basta, que não se mexe, que existe a pessoa perfeita para cada um de nós. O filme, e outros do género, fizeram-me acreditar em tudo, ainda que nada acontecesse. Durante mesmo muito tempo. 

Crescemos assim, e depois, puf. Não é necessariamente mau, talvez possa ser melhor, mas é muito diferente. A música que ainda hoje me faz tremer, ao ouvi-la e ao ver a dança, é o Time of my Life. Vi o filme várias vezes de cada vez que o aluguei (sim, naquela altura havia clubes de vídeo onde alugávamos filmes)  para aprender todos os passos. 

Na altura serviu-me de pouco, talvez apenas para os meus pais pensarem que estava tolinha, embora a mania das danças já viesse de muito cedo. Há uns dez anos, mais coisa menos coisa, consegui personalizar o salto do Time of my Life (ao som de outra música qualquer) com o meu mais que tudo (em vez de lhe saltar para os braços esticados ao alto, como os do Patrick, fazia a corrida e saltava-lhe para o colo, foi uma emoção).  Há umas semanas, enquanto viajávamos de carro, numa rádio local passou o Hungry Eyes, do mesmo filme. Pedi silêncio, comecei a cantar, emocionada, até. Repetia cada detalhe como quem há muito tempo não respirava. "Nem vou perguntar como é que conheces isto", disse ele. Toda a gente que viu o Dirty Dancing conhece isto, respondi.

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