A minha cara mudou. Não foi por ter engordado ou emagrecido. Mudou. Estou mais velha. Não, não estou a dizer que estou velha. Apenas mais velha. Fora certas maleitas físicas, como às vezes parecer que tenho joanetes, a pele mais seca, algumas rugas, muitas brancas ou dores nas costas e conversas com pessoas da mesma idade sobre o assunto, até acho que mais velha é bom. Mas olho para fotografias minhas de há cinco anos e para as de agora e vejo a mudança. E reparem que referi fotografias antigas e atuais. Olhar-me ao espelho tornou-se um exercício um pouco estranho, como se visse o que lá está mas não me visse. Não visse o diferente, o que mudou, o que não volta atrás. Em cinco anos mudou tudo. Pode ter sido porque foram cinco anos cruciais, os que vão dos 30 aos 35, mais coisa menos coisa (estou um bocado baralhada porque sei que fiz 37 há uns dias mas as velas diziam 32). Mas eu acredito que não é a idade que nos muda. Pelo menos não assim tanto, não em tão pouco tempo.
O que nos muda, também as feições, é a vida. Mudou muito na minha vida nos últimos cinco anos, mas a maior mudança de todas não foi na cara. Tive um filho. Sempre quis. Até queria dois ou três. Também quis ser princesa. Passou-me. A vontade dos filhos não. Também não sei se são as hormonas se é a sociedade que nos incute desde cedo esta coisa de querer ser mãe. Sei que não fazia a mínima ideia do que era ter um filho, que caí na grande ratoeira da maternidade romanceada, mas também sei com todas as forças que me estou a borrifar para o sítio de onde veio a vontade, porque tê-lo foi a melhor coisa do mundo. Sim, com todas as noites mal dormidas, todas as cólicas, todos os choros (berreiros, que aquela criança tem bons pulmões), todas as birras.
Tive medo muitas vezes. Paralisei algumas. Quando ele se queimou na mão em vésperas de fazer 3 anos. Quando, há uns tempos, raspou a parte de baixo dos dedos de um pé num azulejo partido. Quando ficou com febre das primeiras vezes. Quando, de repente, desatou aos gritos de dor por causa dos pulmões que, no dia anterior, o hospital dizia que estavam bem. Quando o deixei na creche no primeiro dia. Quando o fui buscar à creche no primeiro dia. E agora ele vai para a escola e eu estou cheia de medo. De não o conseguir ajudar com os trabalhos de casa. Mas agora sei que vai tudo correr bem, que faremos o melhor que pudermos.
Ontem ficaste outra vez sozinho com a avó e já foste capaz de esboçar umas lágrimas nos olhos por nos saberes de regresso ao Porto. Estás crescido. No ano passado ficavas nervoso, birrento, sabíamos o que era, tu nem por isso, apenas que não estavas bem, que algo te incomodava. "Eu sei que vocês gostam de mim, mas eu tenho saudades". Pois tens, nós também, é normal. És um valente, até por seres capaz de falar nisso. Daqui a uma semana temos mais não sei quantas semanas para nós. E se estiver vento na praia, faremos a nossa praia, mergulharemos na nossa piscina, faremos lanches e piqueniques e vamos até onde for preciso para te ver sorrir. E rir muito também. Até estarmos tão cansados que adormecemos de mão dada.
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