I got you, baby - João, 7 anos


A música pode ser pirosa mas não me importa, foi ela que me veio à cabeça quando comecei a pensar em ti, nos teus sete anos, nos nossos sete anos e nove meses. Tenho-te a ti e pouco mais importa, por mais que tenha de me importar com muitas mais coisas que me complicam o caminho. Há sete anos não fazia ideia da aventura em que estava metida, mesmo depois de te ter carregado na barriga durante nove meses. 

Há sete anos, nasceste às 12h14. Olhei para o relógio mal saíste de dentro de mim, queria ajuda para fixar aquele momento, queria-me lembrar da hora para sempre e, lá está, sou dada a trabalhos sem sentido, porque a nossa hora certa não interessa muito para o tanto que interessa nas nossas vidas. O que nunca mais vou esquecer foi ter-te parido, dar-te colo, olhar para ti e amar-te desde o primeiro instante, como nunca pensei que pudesse. Só soube que era possível depois de ti. Faltavas tu.

Há sete anos, não sabia nada de nada do que era ser mãe, mandava palpites a quem tinha filhos e sobre quem os tinha como se fizesse ideia do que estava a falar, fazia promessas a mim mesma sobre coisas que nunca ia fazer e fi-las quase todas: andar contigo no shopping pouco depois de nasceres (quando os bebés nascem nos meses de frio e chuva é difícil encontrar sítio mais cómodo para mudar fraldas ou dar de mamar), adormecer-te ao colo, deixar-te dormir na minha cama, aturar birras em público com vontade de me enfiar num buraco, deixar que te sujes com bolachas e água sentado no carrinho para experimentar umas calças nos saldos, repetir o teu nome vezes sem conta sem perder as estribeiras porque estás distraído, não queres ouvir, ou fazes de conta que não ouves... 

Mudou tudo, depois de tu nasceres, e sete anos depois o teu sorriso e a nossa cumplicidade enchem-me de orgulho. Tens a mania de dizeres piadas e muitas vezes tens piada. Gostas de imitar as minhas gargalhadas e ficas excitadíssimo quando as ouves, ris-te só de me ouvir, mesmo sem perceber por que o faço (a maior parte das coisas que me fazem gargalhar não têm sentido). 

Dizes "era mais adequado" e sabes o que estás a dizer. Falas sobre futebol como um adulto e desfias táticas, nomes de jogadores e considerações sobre tudo o que gira à volta da bola. Fazes o mesmo com as notícias e a política, mas eu e o pai dizemos-te que isso é coisa dos grandes, o que não te impede de voltar a tentar na oportunidade seguinte.  

Começas as frases com "Bem..." e vais por ali fora sem nos dar condições para respirar. A maior parte das vezes, as tuas respostas começam com um ponderado "Provavelmente...". Tens opinião sobre tudo, ou arranjas, a não ser que estejas cansado e não queiras falar, coisa que é muito frequente quando te vou buscar à escola e respondes às minhas perguntas com impacientes "não me lembro" ou "não me apetece dizer". Mais tarde acabas por fazer relatos infindáveis, cheios de detalhes, como se as tuas pilhas não tivessem fim.  

Jogas futebol mesmo sem bola. Sim, imaginas que estás a jogar e dás chutos numa bola imaginária, para além de registares os acontecimentos dos jogos e a composição das equipas em folhas que deixas espalhadas em todo o lado. Também gostas muito de escrever e de ler. Esta semana, fizeste a ti próprio perguntas sobre um livro do Fernando Pessoa que te foi ter às mãos. Inventaste os teus trabalhos de casa e respondeste. 

Dás os melhores abraços do mundo e adoro quando te aninhas no meu colo, porque foste um bebé tão irrequieto e que cresceu tão depressa que quase parece que não tive tempo de te dar todo o colo que queria. Sabes que não te podemos dar tudo e que, mesmo assim, te damos muito. Agradeces sempre, como fizeste hoje ao receber a tua prenda. Podias ficar apenas alegre, feliz, entusiasmado, sei lá. Mas a tua primeira preocupação foi dar um beijo e um abraço ao pai e à mãe e agradecer, também com o olhar. 

Baby, já és um rapaz e esta é a minha melhor caminhada de sempre.  

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