Duas lentes de contacto no mesmo olho (e um filho que me faz muito feliz)


Não, não me baralhei e coloquei num dos olhos a lente que devia ter posto no outro. Por razões que não interessa estar aqui a detalhar, mas que basicamente se resumem ao facto de apenas ver mal de um olho, só uso uma lente de contacto - no olho que vê mal. As minhas lentes são descartáveis de uso diário porque as outras me provocavam infeções constantes. A maior parte das vezes nem preciso de me lembrar de a tirar: a partir de determinada hora começa a incomodar-me, tiro-a bem antes de me ir deitar. Acontece que, no meio dos dias em que fazemos tantas coisas a correr, algumas rotinas escapam-nos. E ficamos certos de que as repetimos, como nos dias e semanas e meses anteriores. Ontem sai de casa e voltei de propósito porque me tinha esquecido de por a lente de contacto. Coloquei a lente e não fiquei a ver lá muito bem. Tirei, certifiquei-me de que estava do lado certo, voltei a por. O problema continuou: um peso nos olhos que atribuí ao sono, a visão estranha, o olhar baço. Resolvi tirá-la. Melhorou. Antes sem lente do que com a lente a incomodar-me. Hoje, enquanto tomava um duche no fim da aula de hidroginástica, pareceu-me sentir uma lente no olho. Tu não me digas?! Queres ver que tirei uma lente e tinha outra por baixo? Há dois dias? Fui confirmar: sim, realmente estava lá a lente. Que estupidez, mulher, andar com duas lentes sem te aperceberes de nada! Agora, enquanto escrevo, recordo-me que anteontem, a meio da tarde, tive de tirar a lente porque me estava a incomodar. Por isso não a tirei à noite. Não foi a pressa nem a rotina, lembrei-me que a tinha tirado durante a tarde. Constato, por isso, com uma certa preocupação, que andava com a mesma lente, que devia ser diária, desde segunda-feira. Hoje é quinta. As pessoas têm-me como alguém organizado, e de certa forma sou, ainda que de forma algo caótica. Arrumada já fui, muito, agora não. Organizada tento ser, para facilitar as tais rotinas de uma mãe trabalhadora que todos os dias tem de fazer o jantar, preparar o almoço para levar para o trabalho no dia seguinte, pensar no jantar do outro dia, lavar roupa, dobrar roupa (passar a ferro praticamente já passou à história), arrumar os sacos da natação do miúdo e da hidroginástica da própria, certificar-me que os acessórios necessários para isso vão estar secos no dia em que forem precisos, assinar papéis para a escola, dar atenção ao miúdo, ir ao supermercado, etc, etc, etc. Mas preferia não ser, acho que seria mais feliz se não fosse, a minha cabeça sempre se podia entreter com coisas mais interessantes, talvez tivesse tempo para ler, ou para rir, ou para não fazer nada. Mas quando não faço nada a minha cabeça lembra-me de que talvez seja melhor adiantar isto e aquilo, caso contrário depois a coisa complica-se. Não, não acho nada que seria mais feliz sem filhos (a revista Sábado publica hoje uma reportagem sobre como é paradisíaca a vida dos casais sem crianças, concluindo que são mais felizes por isso). Eu não seria mais feliz sem filhos, sem o meu filho. Admito que muita gente possa ser, não critico. Apenas digo que eu não. Muito provavelmente, até seria bastante infeliz por não o ter. Sobretudo agora que o tenho e sei o que é este amor. Dá trabalho? Abdicamos de algumas coisas? A dada altura pensamos que vamos dar em doidos? Muitas vezes só nos apetece estar sozinhos? Sim, mas pouco depois de estarmos sós chegam as saudades. Porque este é um amor sem igual. Isto tudo por causa de uma lente de contacto? Sim. Porque eu não sou tão organizada assim. E se não tivesse filhos e a tonelada de tarefas que tenho para fazer provavelmente também teria andado a sobrepor lentes de contacto durante três dias. 

4 comentários:

  1. :D...lá em casa somos família numerosa...também muitas vezes não sei a quantas ando...o que me acontece é colocar cuecas do avesso nas pressas. A tua situação está hilariante! :) ainda bem que não fez mal estar tantos dias a lente. E sim também sou mais feliz com os meus filhos e abdico da cara fresca e sem olheiras pela felicidade de os ter. Beijinhos
    PS - essa reportagem fiquei curiosa, mas acho que concluir que são mais felizes é um erro. Depende muito dos casais...tb acho que as pessoas estão cada vez mais preguiçosas e egoístas e formar família pode ser um drama quando não o é de todo..

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  2. Esqueci-me de dizer que hoje de manhã, ao sair da casa de banho depois da aula de hidroginástica, bati com a porta na cara de uma senhora que vinha ligeirinha a sair do banho. Sim, também tenho destas coisas. Mas também podia ter sido perfeitamente a senhora que vem a ritmo acelerado a sair do banho e apanha com uma porta na cara. Sou, aliás, mais esse tipo de pessoa. :)

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  3. Hum, esta é realmente interessante. Mas de certeza que já experimentou diferentes tipos de lentes de maior duração? Acho um pouco estranho não se adaptar a mais nenhuma lente sem ser as diárias. Mas isto é apenas a minha singela opinião. :)

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