Dia mau. Pedi para sair mais cedo do trabalho para ir a uma consulta, chego e estava tudo atrasado, espero na esperança de que a coisa se componha, mas a primeira consulta atrasou tanto que antes de chegar a minha vez já eram mais do que horas de ir buscar a criança à escola, vim-me embora sem consulta, apressada, stressada, irritada, tudo a correr como pensava que iria ser, mas para nada, nada de consulta.
Vou buscar a criança, que fica feliz por me ver mas amua logo a seguir porque não levei na carteira o lanche que ele costuma comer em casa. Discurso: mas então a mãe esteve todo o dia sem te ver e agora vem-te buscar e ficas amuado, quem é mais importante, a mãe ou o lanche? Ele disse "a mãe", eu ouvi "não sei". "Não sabes? Sem mãe não há lanche!". Que despropósito. Ele lá se explicou, pedi desculpa por não ter ouvido, mas mantive a reivindicação: nada de amuos por coisas que não têm solução. O lanche está em casa, temos de lá chegar. Se estivesses com muita fome comias o pão que te quiseram dar na escola.
No caminho, uma imensidão de trânsito e, sem o lanche para o entreter, um milhão de perguntas e eu nem sequer sabia se ia ter ou não de fazer o jantar, tínhamos combinado jantar em casa da avó que fazia anos mas nada do filho dela, a que horas ia sair do trabalho, se sempre ia comprar o bolo, se sempre ia chegar a horas de irmos todos jantar. Até que ele ligou, espero por ti na bomba de gasolina quando acabar de arrumar isto.
Estaciono, já não há-de tardar muito, um bocadinho do vidro aberto e do outro lado um senhor com uns papeis na mão, vinha pedir alguma coisa, percebi logo. "Escusa de falar comigo, vá falar com outra pessoa, estou aqui com o meu filho". Não podia ser, o senhor da bomba de gasolina não o deixava. "Pois, mas não adianta, a sério, olhe que eu não estou bem". Pois, nem eu, disse ele. Primeiro achei que queria boleia depois pediu-me dinheiro. A carteira pousada no banco de trás e as portas destrancadas, só me apercebi depois, nem sequer tive medo, apostei tudo na cara "por favor não incomodar, não estou boa das ideias, se estás mal eu não estou melhor". "Não tenho, não posso, não queira saber da minha vida". Ó mãe, queres que abra o vidro? E nisto o homem já tinha ido embora, não é preciso, filho, obrigada.
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