A agitada vida do campo

Acordei com uma música indescritível ("eu quero tchu, eu quero tcha" foi o que ainda não me saiu da memória, nem vai sair tão cedo, colou-se), fruto da vizinhança de um pavilhão e de um campo de futebol. Eram 9h, não falha, havendo jogo há música, não escapas. Fora do quarto um gelo húmido, nem é preciso olhar lá para fora para perceber que choveu a noite toda, mas quando se espreita pela janela está pior do que parecia. Pequeno almoço, preciso de um café. A música continua, visto o kispo para fumar um cigarro na varanda, começo a ouvir o padre, era o início da missa, quando há festa a missa é como a música, transmite-se pelos altifalantes. Surreal. Não a missa em alta voz, que essa é prática ancestral na Páscoa e no Agosto da N. Sra. Assunção, mas a mistura, aquela música e o padre, salvou-o o apito do árbitro, que quando começa o jogo as canções param, com a missa não.
Isto passou-se em dois lugares (ia dizer freguesias, mas com a reorganização já não sei) diferentes, mas o vento estava muito forte, trazia a Avé Maria e o tcha ao mesmo tempo, depois voltou tudo ao normal, mas no campo o normal é bem mais agitado do que se pensa: Já tendes onde almoçar? Esperai, que levais duas tacinhas de arroz doce. Podemos passar aí depois de jantar? Nós vamos ver o hóquei, vindes connosco. Assim, sem interrogações, vindes e pronto, eu gosto assim, gente decidida, sem pruridos, delicadezas nem meias tintas, somos assim, vivemos assim, no Minho sê minhoto, quase galego.
Nós fomos, já tarde, estava lá toda a gente que conhecemos e que ainda não tínhamos visto, os tios e os primos, vários. Foi toda a gente ver o hóquei e ganhamos nós.
Há sempre o que fazer no campo, quanto mais não seja limpar a terra que trazemos da rua agarrada aos pés. Ou ver a chuva no meio daquele verde, ou sim, ir ao hóquei, da próxima vez talvez mais cedo.

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