Entre o que gosto e o que me fica bem vai uma grande distância

Aprecio imensas coisas simplesmente porque sim e outras porque me fascina o design e/ou a inovação, mas muitas delas sou incapaz de usar apesar de gostar. Não acontece só com roupa. Nos sapatos, nas carteiras, na decoração da casa acontece a mesma coisa. Por isso, o que mostro no blog ou nas composições do Polyvore são sugestões e não a minha vida real. Não mostro nada de que não goste, mas não uso tudo o que gosto. Acho um piadão a estes dois primeiros pares de sapatos, e os terceiros parecem-me um must de elegância no pé, mas não os usaria. Preconceito? Talvez. Mas acho que se trata de ser mais eu.

 
Entre o que gosto e o que sinto que me fica bem, aquilo que é "a minha cara" e "mesmo o meu estilo" vai uma grande distância. Isto é uma coisa difícil de concretizar, pelo menos para mim. Mas essa é uma das razões pelas quais digo que nem gosto de moda (do que "está" na moda), gosto é de ter estilo e de quem tem estilo. E isso tem muito pouco a ver com moda. Odeio as "Litas" (estas são de fugir, de tão feias que são), os calçõezinhos demasiado curtos e os vestidos mais compridos atrás e demasiado "prepara-aí-as-sedas-que-vamos-a-um-casamento" (até já fui grande fã desta loja, mas estes vestidos, para mim, são um horror - cinderela? agora vamos todos ao baile?).

Há uns dez anos, quase só usava calças de ganga e achava que ter estilo era ter sapatos e carteiras de várias cores para ir combinando com as diferentes camisolas. Não sei se tinha ou não, mas isso passou-me quando encontrei o meu estilo. Acho que tudo começou há uns sete anos, precisamente quando entrei naquela loja e me enfiei nuns quantos vestidos, sapatos e relógios de design deslumbrante que eram mesmo aquilo que eu queria e que me fizeram sentir "esta sou eu, não preciso de tanta tralha, só precisava de me encontrar".

Claro que não mudei o guarda-roupa todo e ainda hoje ele não é composto só de marcas "giras". Mas os sapatos de Inverno são quase todos pretos, porque é isso que uso. Este ano comprei umas galochas cor-de-rosa porque as experimentei só por experimentar e adorei. Foram das melhores compras que fiz, são ótimas, super-confortáveis, não deixam os pés gelados e a cor garrida dá mais cor às roupas pretas, cinzas, azuis e pouco mais. 



Estava tudo a correr lindamente até comprar estas sandálias Camper. Não foi propriamente uma compra por impulso: já as tinha experimentado duas vezes, noutras lojas, e quando entrei naquela ia decidida a comprar. Mas foi uma compra por teimosia. Queria umas sandálias com salto, confortáveis, prontas para calcorrear o dia-a-dia, aquelas foram as que mais se aproximavam do que queria. Acontece que cheguei a casa e consegui combiná-las com duas peças de roupa - um vestido e umas calças de ganga. É pouco, muito pouco. E à medida que fui olhando mais para elas comecei a achar que não tinham mesmo nada a ver comigo, que ia usá-las pouquíssimas vezes a não ser que voltasse a enfiar-me nas calças de ganga todos os dias e mesmo com elas talvez me fartasse. Ouvi algumas opiniões no Facebook e quando comecei a sentir que os comentários que me confortavam eram os que diziam "deita isso fora" percebi que não havia volta a dar. 

Fui trocá-las. Tê-las-ia devolvido, mas estamos em saldos, não dá. Sim, até eram giras, confortáveis, ficavam-me bem no pé mas eu não me sentia bem com elas. E há coisas que não precisamos de complicar, sobretudo aos 35 quase 36, numa altura em que já percebemos que não vale a pena insistir em determinadas peças, porque elas não nos representam e vão acabar por ficar encostadas no armário. E porque - já fiz o teste várias vezes - nem sequer precisamos de sapatos de "cerimónia" nem as cerimónias têm de ser feitas apenas de saltos altos. Quando se consegue um visual top sem saltos que nos deixa perfeitas porque nos sentimos e estamos bem, lamento, mas não preciso de insistir, vou muito mais eu.

Troquei, por duas (coisas de saldos, outra vez, mas as primeiras eram caras e pude multiplicá-las). Aquele verde não corresponde bem ao verde real e as amarelas podem parecer sandália de turista estrangeiro ou caminhante, mas ode o mundo inteiro achá-las feias que eu sinto-me bem com elas e elas têm tudo a ver comigo e com a roupa que uso. Isto não é sinónimo de ter estilo, mas talvez o estilo seja coisa que não se explique. Porque também há coisas pelas quais não daria um tostão e, depois de vestidas ou calçadas, são uma surpresa. Sim, eu sou uma complicação. Não preciso de comprar coisas caras e tenho muitas peças que são da Lefties, mas tenho de gostar delas. Comprar por comprar, porque é ou está mesmo barato, não. Se não gostar MESMO, não compro, não lhes vou dar uso, e eu compro calçado para durar umas estações. Quem não compra "demasiado moda" pode comprar a longo prazo. 

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