A festa dele, numa antecipação muito antecipada

Há largos meses que andamos à volta deste assunto, a tentar contornar a hipótese avançada por ele de trazer os amigos da escola para a festa de aniversário de casa. Não é por mal, a casa é pequena e os filhos dos amigos e familiares já são suficientes para o caos no quarto, com a cama que invariavelmente vai abaixo porque alguém se senta lá com demasiado entusiasmo, com os brinquedos e com a circulação nos corredores. 

Ele tem 4 anos, vai fazer 5, e o usual é levar bolo para assinalar o aniversário na escola, com os amigos. Tivemos no ano passado um primeiro convite de um amigo da escola para uma festa de aniversário num daqueles contentores horríveis e a música estava tão alta que a criança (a minha) se quis vir embora. De modo que fazer festa num contentor está fora de hipótese - o aniversariante seria o primeiro a fugir.

Eu até gosto mais das festas em casa e sou super prática na coisa: não cozinho nada, a não ser uma sopa e arroz, eventualmente, prefiro comprar o bolo para evitar desgraças, vai-se buscar uns frangos, a família traz sempre alguma coisa, copos e pratos de plástico para todos e está resolvido. Mas depois nunca é bem assim, porque há sempre solicitações na cozinha - arranja isto, traz-me um copo de vidro, e um prato, põe isso antes numa travessa de cerâmica que fica melhor e falta um talher, e mais isto e aquilo. E assim rapidamente a máquina de lavar loiça acaba por não chegar para as encomendas, é preciso lavar loiça à mão, não sais da cozinha, conversaste com alguém? Quem, eu?

Ainda faltam quatro meses para o aniversário e ele não desarma. Largos meses a falar nisto, largos meses a dizer-lhe que não é preciso convidar os amigos lá para casa porque também vai comemorar com eles na escola. "Mas no dia de anos não há escola, é sábado". Não há resposta para isto, realmente. E se comemorássemos na casa da avó, a não sei quantos quilómetros de distância, "assim os meus amigos podiam tomar banho na piscina [de plástico, com capacidade máxima para três crianças e já é estar a pedir muito]". Não pode ser, em novembro já é outono, está frio, é melhor festejar na escola, "mas ao sábado não há escola". 

E ontem, quando o vou buscar, vejo que não será possível dar a volta à história: "Estava a convidar o D. para ir à minha festa, disse que ele podia comer os chupas que vamos comprar, também podemos comprar Ice Tea de lata, com palhinhas, também quero convidar a E., porque ela se porta bem, e a M. e a outra M. e o V., o A....". Não há maneira de dar a volta a isto, até porque o entusiasmo dele me faz lembrar de mim, num ano em que, com meses de antecedência, resolvi iniciar a missão de escrever à mão convites para toda a gente que conhecia e para aquela que mal conhecia também, todos decorados com carimbos da Hello Kitty. 

Tenho ideia de andar a mostrar aquilo que me pareciam obras de arte à minha mãe e ela me dar a entender que a festa não poderia ter aquela gente toda, até porque aquela gente toda não estaria disponível para ir à minha festa. A verdade é que eu, aniversariante de agosto, mês em que nunca ninguém está disponível para festas porque nessa altura é mais férias, não quero estragar ao miúdo o prazer que nunca tive, de ter uma festa cheia de amigos da escola.


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