Voltamos à escola e ao piquenique. Menos gente do que no ano passado, desta vez só cinco alunos, todos contentes pela repetição da experiência, um piquenique à noite, na escola, os amigos e a família, a professora, até a família da professora veio para as sardinhas e as febras, o pão, as sobremesas e o vinho.
Desta vez eram apenas cinco meninos, tão cúmplices, tão amigos, havia imagens deles pequeninos, a entrar na primária, agora dois já fizeram a quarta classe, os outros três sabem lá onde a vão concluir, se ali se noutra escola, são só três, dificilmente a escola ficará aberta, pode ser que por ser tão longe alguém se esqueça dela e os deixe ali perto de casa, na escola dos bancos de pedra e dos baloiços com vista para a montanha.
Falou-se e riu-se alto mais uma vez, o meu filho já é amigo do irmão de uma aluna, comeu-se e bebeu-se, ninguém faz cerimónias, espere, não se vá embora que agora é que vem o mais lindo, eles vão dançar ao som da Waka Waka da Shakira, os rapazes vão estar meios envergonhados com as leggins vestidas e as fitas coloridas nas pernas, mas dançam, dançam todos e a família já não se surpreende com a atuação dos meninos, que pena talvez não haja mais, a professora discursa, obrigada a todos, cheguei aqui há sete anos e fizemos muitas coisas, vocês sabem onde fica a minha casa, quer-se reformar há anos, parece que agora chegou a hora, embora não se saiba muito bem quando, mas não há-de passar de outubro, cala-te boca, não vá o Governo inventar alguma coisa nova, que raio, se querem despedir não sei quantos funcionários públicos por que motivo não a deixam reformar-se.
O presidente da junta que também é professor lembra o que disse aos alunos dele, no dia anterior, na festa que fez com eles: nós somos como vossos pais, quero que sejam todos boas pessoas, amigos, o que levam daqui não são só as letras. Depois a gravata, se depender de mim não fecha, mas não depende, a conversa do costume, tenho a impressão de que os meninos esperavam ouvir coisa diferente, quando damos por eles estão a chorar, uns de lágrimas nos olhos, outros com as lágrimas a correr-lhes pela cara, outros a chorar mesmo, aos soluços, vem o pai e pega nela ao colo, oh minha menina não chores, fazes-me lembrar de mim, toda espevitada nas danças, já sabes que podes ir a casa da professora e levar uns livros para ler que eu não me importo, tu e os teus colegas, já sabes que podes.
As famílias também: a mãe com a criança de colo e a avó que ficaram à minha frente na mesa estavam a chorar, percebi quando me virei de costas para o palco, quando já era quase tudo silêncio e ninguém sabia bem o que dizer, olhos cabisbaixos para não ver os outros entristecidos, os pais dos meninos que já acabaram a quarta classe estão sossegados, os outros não, diabo, por um ano, só falta um ano, os miúdos podiam acabar ali a escola primária, na escola dos bancos de pedra e dos baloiços com vista para a montanha, pronto, vamos embora, este ano foi bom mas no ano passado foi melhor, porque não havia fim nenhum à vista. A tristeza vai passar. E quando crescerem espero que se lembrem da minha mãe, a professora, e da escola dos bancos de pedra e dos baloiços com vista para a montanha que eu não vou esquecer e que faz inveja a muitas escolas do Porto, sabeis que aqui o neto da professora não tem um brinquedo que seja no recreio, e ainda só anda na pré?
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