WHAT' S IN YOUR CLOSET #11 Dora (locaishabituais.blogspot.pt)

A principal preocupação antes de sair de casa é certificar-se de que não leva vestido nenhum "mono". Foram muitos anos com essa tendência, diz ela, mas eu não me lembro de ter sido assim tão dramático. Reconheço, contudo, que nos últimos anos a encontro com bastante mais estilo. Mais ousada, menos clássica, mais gira. Dora, do blog Locais Habituais, diz que tirou do armário todas as "coisas feias", para não cair em tentação. E agora gosta e usa camisolas com corações e estrelas, num estilo feminino que tem de lhe  permitir sentir-se composta sem a impedir de desatar a correr se for preciso. Ou baixar-se sem rasgar alguma costura. Considera que todas as mulheres "se preocupam com o que vestem e as que não se preocupam também se preocupam com o facto de não se preocuparem". Define-se como tendo um estilo "feminino casual campestre" e - pasme-se - deu-se ao trabalho de levar a roupa para o meio do campo para a fotografar. 

1. Qual é o primeiro momento do dia em que pensas na roupa que vais vestir?
Desde que sou mãe, deixo sempre tudo preparado na noite anterior. Eu sou daquelas tipas que paspalham em frente ao guarda-vestidos, hesitando entre camisolas, e mais vale paspalhar à noite do que manhã quando o tempo passa a correr e o cérebro está menos apto. Quando não deixo a roupa preparada, desoriento-me. Deixo tudo pronto, desde a roupa interior até aos acessórios, passo a ferro se for preciso.

2. Preocupas-te com isso ou vestes a primeira coisa que te aparecer à frente?
Todas as gajas se preocupam com o que vestem e as que não se preocupam também se preocupam com o facto de não se preocuparem. É questão de ir a alguns blogs de fulanas que dizem que andam mal arranjadas ver a quantidade de vezes que falam do assunto - como a minha muito estimada e brilhante amiga Calita, do Panados e Arroz de Tomate. Sempre me preocupei com o facto de não me saber arranjar e demorei anos até consegui-lo mais ou menos. E não foi natural – precisei de ver dezenas de episódios daquele programa “What not to wear” até perceber como podia vestir-me de forma a valorizar o que tenho de melhor. E admito sem complexos - vestir-me melhor foi importante para a minha auto-estima. Pode parecer fútil, mas uma questão fútil mal resolvida pode ser muito incómoda.

3. Qual a tua principal preocupação estética antes de sair de casa? Não sair maquilhada ou ter a certeza de que não te esqueceste de nenhuma peça de roupa fundamental?
É não sair vestida com monos. Tenho uma tendência histórica para usar a coisa mais feia que tenho no guarda-vestidos, como se não merecesse andar jeitosa. E não me encher de cores escuras e neutras, que me envelhecem, outra tendência que sempre tive. A psicanálise poderia talvez explicar isto. Para superar, tive que aceitar esse facto e lidar com ele. Eliminei todas as coisas feias do armário para não cair em tentação. Ou quase todas, porque tenho alguma roupa para usar quando trabalho na quinta, mas tento que nem essa seja muito feia. Há sempre o risco de um dia a levar para a rua.
Desde que fiz a cura de “What not to wear”, preocupo-me sobretudo com andar vestida de acordo com as minhas formas e o meu gosto. Explico porque adoro esse programa: os dois apresentadores ensinaram todo o tipo de pessoas a vestir-se melhor, e nunca lhes disseram  que elas eram gordas ou magras ou feias ou que deviam fazer ginástica ou pôr botox. Eles olhavam para mulheres gorduchas e diziam “Você tem umas belas pernas, temos que lhe arranjar saias”; ou para mulheres narigudas e diziam “Você tem uns olhos magníficos, temos que os realçar”. A grande reviravolta da minha vida no que diz respeito à estética pessoal foi essa – perceber o que tenho de bonito e deixar de me centrar no que tenho de menos bom. E tenho muitas coisas bonitas, tenho um belo tom de pele, um cabelo saudável, forma de ampulheta, um pescoço e uns ombros bem desenhados. E sou bem humorada e optimista, a minha roupa também tem que alinhar com isso.

4. Preocupas-te em aplicar cremes, maquilhar-te, pintar as unhas, arranjar o cabelo, etc?
Sim, mas não com tudo isso. Faço questão de andar com as sobrancelhas sempre arranjadas e trato bem da pele, do cabelo e dos dentes. Aprendi isso no Brasil, onde as mulheres, todas, das mais ricas às mais pobres, cuidam desses detalhes. Uma cara com a pele saudável, um traço de sobrancelhas bem desenhado e um sorriso limpo brilham por si.
Não gasto muito dinheiro em cosmética, mas gastei muito dinheiro no dentista no ano passado. Alimento-me bem, bebo água, procuro estar em paz comigo mesma tudo isso se reflete na pele muito mais do que tratamentos estéticos ou cremes cheios de promessas. Sou minimamente cuidadosa: uso creme de dia e de noite, às vezes faço uma máscara, tiro sempre a maquilhagem antes de ir dormir. Maquilho-me quando vou trabalhar, ligeiramente. Corrector de olheiras, lápis dos olhos e, às vezes, uma pincelada de pó compacto. Gosto de andar com boa cara.

5. Qual é o teu estilo?
Sou muito banal, mas com alguma frescura. O meu estilo é bastante casual, mas “put together”. O desalinho não combina comigo, passo sempre as blusas a ferro e gosto de sentir que estou composta, mas que posso desatar a correr se for preciso ou baixar-me sem se rasgar qualquer costura. Gosto muito de ser feminina, de usar brincos enormes, de carregar no lápis dos olhos, de corações e laçarotes, de rosa forte e vermelho cereja, mas sou adepta de um feminino robusto e de peças com algum dramatismo, alguma subtil extravagância. Ando lentamente a deixar o preto e a deixar entrar cores vivas, acho que viver no meio da natureza me está a influenciar.
Adoro botas ou botins estilo texanas ou motard, tenho vários pares deste género em camurça e ando sempre com calças de ganga. Também sou fã de casacos e capas de tecidos fortes e com bons cortes. Gosto de mulheres poderosas, capazes de dar um banano a um gajo se for preciso e isso não é muito compatível com saltos agulha, tecidos frágeis ou pencil skirts.
Talvez o meu estilo seja de um feminino casual campestre, não sei, para ser campestre devia usar mais vestidos, mas ainda não superei esse obstáculo psicológico – usar mais vestidos é a minha resolução para 2013.

6. Como é o teu armário? Cheio, arrumado, desarrumado, caótico?
Já foi cheio e caótico, a dar-me vontade de chorar. Desde que leio blogs de minimalistas e decidi aplicar alguns conselhos é muito mais arrumado e sensato. Neste momento, vivo numa casa provisória, enquanto a minha está a ser restaurada e o meu guarda-vestidos é pesado e escuro. É bastante feio, estou ansiosa pelo meu novo “closet” em pinho, que ainda vou mandar fazer. E não vai ser grande, ter muita roupa não é a minha prioridade. Ter roupa que combine comigo e me traga boa energia, sim. A natureza dá-me essa energia. Em sua honra, fotografei a minha roupa toda no meio do campo, onde me sinto tão bem.




7. Quais as peças/artigos que tens em maior número? Sapatos, vestidos, camisolas?
Botins de camurça, sandálias de cunha, calças de ganga, camisolas de malha, blusas de todas as cores e padrões e casacos de Inverno. Brincos também, adoro brincos, adoro.

8. Como é que escolhes/compras a tua roupa?
Penso sempre se aquela peça vai combinar com outras que tenho, se gosto da cor, se o corte me favorece e, só em último (shame on me) se realmente preciso dela. Pode acontecer também a peça me bater na alma com força, como sendo um sonho antigo e eu não resistir, se tiver orçamento para isso. Aconteceu-me isso com um kispo comprido azulão da Asos. Sempre quis uma peça daquela cor, é um azul intenso e poderoso, entrou em saldos por 30 euros, comprei-o e temos sido muito felizes juntos.

9. Encomendas roupa online?
Sim, já comprei roupa online uma série de vezes. Sou cada vez mais alérgica a ir a lojas e passar lá muito tempo, detesto shoppings e passar tempo em provadores, cheia de calor e ansiedade. Mas é um risco maior. Comprei sobretudo na Asos. Também tenho peças da Pretty Bunnies, tem camisolas cheias de corações e estrelas, como eu gosto. Todavia, cada vez mais me causa impressão comprar roupa cujo fabrico é distante e nebuloso, em fábricas em países que nunca aparecem nas notícias, onde as pessoas são escravizadas. Desde que subscrevi no facebook uma página chamada Clean Clothes Campaign que ando desassossegada.

10. Qual a tua loja preferida?
Sou pouco fiel a lojas, mas neste momento posso afirmar que aprecio a Lanidor, concretamente o outlet da Baixa do Porto, onde vou fuçar algumas vezes. É bom encontrar blusas e vestidos cheios de cores, a preços muito acessíveis, e sobretudo fabricados em Portugal. A Zara está cada vez mais insuportável, pretensiosa e parola, a H&M parece um ferro velho de roupa e a Mango está banalíssima.

11. Qual a tua peça de roupa preferida? - neste momento e de toda a tua vida (algum artigo que tenhas amado perdidamente e que morreu de velho)
Uma capa cor de tijolo que era da minha mãe, que desde pequena sempre desejei usar e que ela, numa limpeza de armário, deu a alguém que já nem se lembra. Nunca chegou até mim. Ando à procura de fotos onde a capa apareça para mandar fazer uma igual. Não ter herdado essa capa é o maior desgosto fútil da minha vida.
Tenho três peças que adoro e que, se tivesse que fugir em 10 minutos só com um saco, levava de certeza. A minha mala Yuki, que tem vários anos e como é feita de estofos de carros vai durar a vida toda. As minhas botas motard de camurça da Foreva, que hei-de usar até romper. Um cinto de pele da Porfírios, que tenho há 20 anos. Cresci no subúrbio e a Porfírios era a loja mais fixe do Porto, embora só tenha comprado lá pouco mais que este cinto (que acho que até foi a minha irmã que comprou), porque aquilo era muito “edgy” e eu nunca fui “edgy”. Mas a mise en scène era soberba, tenho muitas saudades de ir pela Santa Catarina fora até à Porfírios.






12. Qual a pessoa (conhecida ou não) cujo visual "invejas"? Gostavas de ser como quem?
Adoro a Joana Vasconcelos, já me cruzei com ela ao vivo e quase me prostrei em adoração. Trazia uma túnica preta, uma capa amarelo dourado e um colar com um enorme coração de filigrana. No dia seguinte, fui comprar um à Parfois e nunca o usei. É uma deusa do estilo e prova que não é preciso ser magra para deixar uma marca na moda. A minha amiga Dilma inspira-me um sentimento igual, é uma mulher lindíssima e poderosa, e uma Midas do estilo, tudo o que veste parece sublime. É talvez a pessoa que mais me tem marcado nesse aspecto. Nasceu para personal stylist, mas trabalha em recursos humanos, é um desperdício. Também gosto muito da Michelle Obama. E amo todas as pessoas excêntricas em geral, que usam calças verdes e sapatos amarelos, turbantes ou enormes colares, cores garridas, cabelos originais. Tenho uma grande paixão pela excentricidade, tenho pena de ser uma pessoa tão contida como sou.

13. Já houve alguma altura da tua vida em que querias vestir-te como alguém? Quem?
Como algumas amigas minhas, eu sou pessoa de ídolos comuns, não admiro nenhuma gaja famosa.

14. Alguma vez saíste de casa sem sapatos, com uma meia de cada cor, com a camisola do avesso ou outro episódio semelhante? Qual?
Com camisolas ao contrário e com um casaco novo com a etiqueta do preço pendurada. Mas já saí muito mal vestida muitas vezes, infelizmente. Andei sempre mal vestida, acho que nem no meu casamento eu estava bem vestida e bem penteada. Isto de ter estilo é uma coisa muito recente para mim.

5 comentários:

  1. Grandes fotos dona Dora! Gosto da forma como respondes (quer dizer, vocês que são as profissionais das palavras têm o dom de transformar uma simples pergunta numa teoria qualquer:D) e gosto deste lado 'normal' das entrevistas, longe das imagens de revista. No top estão as tuas fotos na eira, sem dúvida!!!!

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