Complicada, sim, so what?

Gosto mais dos desafios dela do que de tomates e por isso não consegui resistir a este: E tu, o que queimavas? Comecei por dizer que queimava as minhas preocupações crónicas, mas ela alertou-me para as "pobres almas que gostam de confusão, que passaram anos a fio a tentar organizar-se e que nunca serão felizes enquanto não lhes derem paz e se aceitarem confusas" porque "nem sempre simplificar é bom". Eu tive de fazer o meu próprio auto de fé e admitir que sou confusa, complexa, complicada e não vale a pena tentar queimar isto tudo, porque acabaria muito chamuscada.

Queimava, isso sim, o egoísmo, a invejazinha, a caridadezinha, os mal-entendidos, os não ditos, os silêncios, as boquinhas sorrateiras de sorrisinho no rosto. A falsa modéstia, a falta de humildade, a falsa humildade, a parcimónia mentirosa, a hipócrita convicção de quem acha que sabe o que não sabe. Queimava o o desemprego, o novo código de trabalho, as novas regras de indemnização por despedimento, queimava as novas tabelas do IRS e as complicações dos subsídios por duodécimos, queimava o raio do relatório do FMI que parece ser mais extermínio do que outra coisa. Queimava a confusão que tudo isso provoca na minha cabeça. Queimava roupa, que às vezes canso-me de pensar nela, queimava o dinheiro, a ver se multiplicava, ou se parávamos todos de nos tentar comer vivos por causa dele. 

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