"Não é o fim nem o princípio do mundo. É apenas um pouco tarde". É de Manuel António Pina esta frase, fotografada na manifestação de sábado, 13 de outubro de 2012. Morreu hoje, o escritor e poeta, Prémio Camões em 2011.
Manuel António Pina foi jornalista do "Jornal de Notícias" durante três décadas e manteve até até há poucos meses, na última página do JN, a crónica "Por outras palavras", onde continuou a ser jornalista. Jornalista mesmo. Num dia de luta dos jornalistas, com a greve dos jornalistas do Público a juntar-se à da Agência Lusa (segundo dia com 100 % de adesão), este transformou-se, também, num dia de luto.
Precisavamos dele, para a luta. Para que continuasse a ensinar-nos todos os dias (mesmo aos que sabem ou acham que sabem) o que é ser jornalista, que não é bem a mesma coisa do que fazer jornalismo. Ou produzir conteúdos. Ou ser acrítico. Ou abandonar as ruas e as pessoas. Ou confundir objetividade com falta de capacidade de análise. Ou entender a imparcialidade e o rigor com a ausência de cidadania. Sim, os jornalistas têm de ser rigorosos, objetivos, imparciais, mas não deixam de ser cidadãos. Manuel António Pina era. Todos os dias, nas crónicas do JN. Como esta, esta, ou esta.
Dir-me-ão que se tratavam de crónicas e, portanto, textos de opinião. E que os jornalistas não podem emitir opinião nas notícias e nos textos que escrevem. Mas há muitas notícias sem opinião dos jornalistas que têm muito mais opinião do que se podem imaginar. Mas o propósito deste texto não é criticar ou debater o jornalismo. É dizer que Manuel António Pina fazia todos os dias algo que todos (jornalistas ou não) deviamos fazer: pensar e não ter medo. De falar, de pensar, de fazer pensar, de ninguém, de nós próprios.
Deviamos ser muitos a seguir-lhe o exemplo.
Também podia aprender com o Manuel António Pina a não escrever com o miserável acordo ortográfico. É que o texto podia estar brilhante, mas com o acordo falha tudo. Que pena.
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