Tum, tum, tum. Tum Tum Tum Tum!

Era para ter durado meia hora mas demorou uma. E ainda bem, porque nos primeiros 40 minutos o miúdo não quis saber da festa, dos gigantones, dos bombos, do barulho. Estive, por isso, sentada num sofá (foi uma sorte, este ano tivemos uns certos privilégios, se tivessemos ficado na rua tínhamos ido embora na certa) com ele ao colo. Ele encostado a mim, eu a tapar-lhe os ouvidos, ele bater o pé ao som dos bombos, apesar de tudo. Enquanto ali estive batia o pé como ele ao som dos bombos e pensei durante minutos a fio que aquela era das melhores memórias da minha infância. Que, quando era miúda, ia ver aquilo todos os anos. Viana do Castelo, em festa. Era uma festa.

Não me lembro de me incomodar com o barulho, mas recordo-me bem do medo que tinha daquelas baquetas (?) dos bombos maiores, aqueles homens a rodar os braços com todo o vigor, a sensação de que os braços deles iam sair disparados do corpo e uma coisa daquelas me ia parar à cara. De maneira que me resignei. O miúdo tem medo, nada a fazer. Eu também tinha. E ainda assim aquela sensação de uma das melhores memórias de infância.

Quando o espetáculo chegou ao fim, o miúdo já tinha deixado de ter medo e na minha cabeça continuava a entoar o tum, tum, tum. Tum Tum Tum Tum. Achei que talvez aquilo tivesse algo de mágico ou viciante, que uma vez visto numa mais nos saía da alma e da memória. Mas não, pouco provável.

Claro que tive a minha fase de achar uma parvoíce perder um dia de praia (tudo por um belo bronze no fim do verão) para ver uns homens bater com uns paus nuns bombos e uns bonecos gigantes a dançar desongonçados. Na adolescência somos assim, quase tudo nos incomoda. Mas aquilo, realmente, são só uns homens a bater nuns bombos, é racionalmente um bocado parvo ficar emocionada ao ver e ouvir aquilo.

E continuava a sensação de uma das melhores memórias de infância. Como se o meu pai ali estivesse outra vez. Eu sem dor ou saudade, só a sorrir por dentro, feliz por estar ali com o meu filho, na esperança de lhe criar a mesma doce recordação. Enquanto pensava lembrei-me que aquele também era o dia de almoço ali perto, caras sorridentes, fondue para todos, mousse de chocolate no fim. Era dia de fazer vontades e ceder a caprichos, balões, brinquedos, algodão doce,  gelado de máquina num cone, carrosseis, farturas. Era um dia cheio de tudo. Dos bombos também. Racionalmente ou não, é um espetáculo digno de se ver, aquele esforço, aquele ritmo, o tum tum tum dos dias mais felizes da minha vida.



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