Barbies e princesas

A boneca é esguia, tem pernas até ao pescoço, umas maminhas jeitosas, é loira e tem olhos azuis. Há muito quem a critique por ter esta imagem perfeita, capaz de influênciar as crianças a quererem crescer à imagem e semelhança da Barbie. Pois a mim a boneca nunca me incomodou a esse nível. Eu, que até tive problemas com o meu corpo por não ser magro. A origem da questão não esteve na Barbie, nem de longe nem de perto.
 
Nunca tinha sequer pensado muito nisso, até andar em arrumações e descobrir umas Barbies antigas. Estavam todas sem a roupa original, mas não estavam despidas. Tinham pedaços de tecido que lhes enrolei ao corpo para fazer vestidos ou com roupas de outros bonecos que eu adaptava. Percebi, então, que a minha relação com a Barbie era, sobretudo, de estilista/modelo. E que a minha paixão por roupas e criação de looks vem daí.  Lembram-se da loucura de umas saias balão que houve há uns anos? A minha Barbie teve uma, porque eu idealizei-a e a minha tia deu uma ajuda na costura. Também teve imensos chapéus e carteiras, alguns dos quais feitos de cartão e forrados com tecido a condizer com o vestido. Também teve anéis meus a servir-lhe de pulseiras, penteados cortados por mim (sim, não tive problemas em deixar o longo perfeito cabelo da Barbie ao meu gosto), brincos e imensos sapatinhos (esses já eram dela, que o meu habilidade não ia ao ponto de me tornar designer de sapatos).
 
Descobri um saco cheio disto tudo e pensei que todos aqueles acessórios e opções eram como estar no Polyvore. Que já ando a criar looks há muito mais tempo do que penso. Estive preparadinha para fotografá-las, mas desisti: estavam despenteadas, têm um cabelo que não é nada fácil de pentear (sim, eu tentei), algumas roupas já estavam em mau estado de tanto vestir e despir, senti-me um bocado ridícula por estar a brincar com bonecas (estava a penteá-las e a vesti-las, isso é brincar com bonecas, certo) e depois veio o meu filho e quis ser ele a penteá-las, a calçar-lhe as sapatilhas, a secar-lhes o cabelo e a deitá-las na cama e no sofá (da Barbie).
 
Claro que esta brincadeira com as roupas se misturava (ou precedeu, já não sei ao certo), a história dos amores e desamores entre a Barbie o Ken, umas vezes muito felizes outras com uma das Barbies muito zangada porque afinal o Ken estava apaixonado por outra. E aqui chegamos ao centro da questão, que até dava outro post: os contos de fadas, as histórias de princesas e de meninas coitadinhas que nos encheram a vista e o coração enquanto crescemos, nós, as trintonas. Via a Candy Candy e fartava-me de chorar, mas adorava aquilo. Brincava com bonecos (ainda antes da Barbie) e iam encontrar-me com lágrimas a cair-me pelo rosto porque a história inventada incluia sempre um grande drama.
 
Já não me lembro se tudo terminava com um final feliz, mas presumo que sim. E, já aqui falei disso, foi isso que estragou tudo: mais difícil que lidar com uma boneca de plástico perfeito e um corpo imperfeito foi lidar com a constatação de que não chega um dia em que superamos todos os obstáculos e dificuldades e somos felizes para sempre. Eles - os obstáculos e as dificuldades - estão sempre a aparecer, às vezes quando menos esperamos. Viver é ter de lidar com eles e ultrapassá-los. A sorte é que há dias em que os imprevistos são coisas boas. Ou muito boas. E que no meio de grandes confusões o sorriso de um filho ou um abraço podem mudar tudo.

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