A dificuldade dos meios termos

Demasiado calor, depilação feita, há que aproveitar para usar um vestido, que o tempo vai arrefecer e entretanto os pelos crescem. Uma mulher tem demasiadas coisas para gerir e não é fácil fazê-lo numa cidade como o Porto, nomeadamente na primavera ou no verão, em que tanto está um calor tropical como está ameno, chove ou a temperatura desce abruptamente e até fica frio. 

Há que estar sempre de olho nas previsões metereológicas, porque o tempo aqui muda quando menos esperamos. A meteorologia nem sempre acerta, mas mais vale saber o que ela reserva para não dizermos que não nos avisaram. 

Pois hoje, apesar dos avisos de trovoadas e aguaceiros, estava demasiado calor para me enfiar numas calças. Mais do que isso, ontem fiz a depilação e, para amanhã, a previsão é que o tempo arrefeça. Concluo que mais vale usar um vestido de verão enquanto posso, não vá ficar frio ou não vá ter tempo para livrar as pernas dos pelos quando voltar a estar calor.

Enfio-me num vestido com três ou quatro anos, mais coisa menos coisa, o mais fresco que me aparece no armário. Já no ano passado estava mais larguinho do que quando o comprei, mas ainda assim era usável. Hoje fazia-me um fole nas costas, puxei o tecido que sobrava e cabia outra de mim lá dentro. Tira, veste outro. Comprado este ano. Talvez demasiado curto, ou demasiado marcado para um dia de trabalho. Mas agora que o comprei, tenho de o usar, era o que faltava deixá-lo apodrecer no armário. Olho ao espelho, não me parece mal. 

Diz que fica demasiado apertado, quase como se as costuras fossem rebentar - o comentário chegou quando já estava no trabalho, não tenho agora alternativa senão mantê-lo no corpo até chegar a casa. Não me sinto assim tão apertada, aliás nem me sinto nada apertada, mas fiquei a pensar naquilo. 

Talvez sejam demasiados anos a sentir-me olhada pelo que supostamente são as piores razões - ser gorda. Nunca gostei que fizessem comentários sobre o meu aspeto ou a minha roupa porque me sentia olhada. E ao sentir-me olhada sentia-me mal. 

Ter peso a mais não tem mal nenhum se a pessoa se sentir bem com isso. Eu não sentia. Agora nem sei bem que peso tenho (aquilo da balança da médica de família não é mesmo fiável, mas essa histórica fica para amanhã), mas há inseguranças difíceis de ultrapassar. Às vezes o melhor é passar por cima: eu sinto-me bem comigo e com o vestido, e isso é tudo o que, para o caso, realmente importa. 

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