A moda do Porto precisa de um mapa

A sério que não sei como é que o Porto ainda não se lembrou disto. Um mapa, normal, daqueles turísticos, que assinale as lojas de moda e design “alternativos”. Nem sequer lhe faltam estabelecimentos destes, parecem cada vez mais, os que fogem aos roteiros dos shoppings.E espaços como estes são sempre diferentes, seja em que ponto do globo estiverem. A coisa é poderosa, à custa dela cruzei Santiago de Compostela quase de uma ponta à outra arrastando marido e filho, sem carrinho, tinha ele dois anos, quase três, e não andava, corria, ou então ia ao colo.

A ideia anda na minha cabeça há anos, até podia vendê-la, mas acho que as ideias não dão muito dinheiro por estes dias. Ou talvez as ideias que dão dinheiro sejam as que já o têm para se concretizar. Não sei, é uma ideia que tenho. Também não me estou a ver num balcão de atendimento a sussurrar ao funcionário: "Sabe, tenho uma ideia para vender". É que ele respondia-me: "Ó menina, aqui ninguém compra nada!". Nem sequer há balcões para isto, pois não? Onde é que uma pessoa se dirige quando tem uma ideia? Pelo menos que o funcionário me trate por menina, não gosto do "ó minha senhora", parece agressivo e nem sequer combina com a minha roupa.

Sempre pensei que alguém acabaria por colocar a ideia em prática, mas acho que não. A coisa é poderosa, à custa dela cruzei Santiago de Compostela quase de uma ponta à outra arrastando marido e filho, sem carrinho, tinha ele dois anos, quase três, e não andava, corria, ou então ia ao colo. Tudo para descobrir lojas diferentes, de moda alternativa e tudo depois de descobrir o mapa. Uma coisa simples, um mapa turístico, que em vez de assinalar monumentos indicava as lojas de moda e design "alternativo" da cidade.

Fiz o percurso todo, passei por coisas que não interessavam e outras que me interessaram muito. Nas lojas perguntavam-nos sobre o Porto, que gostavam muito, que iam lá (vinham cá) ver concertos, que se dizia que a noite estava muito animada, e nós, o que achávamos? Bem, com uma criança de dois anos nos braços não achávamos muita coisa e eu só conseguia pensar que o Porto tinha de ter um mapa daqueles. À custa dele conheci o Fran, que nos ofereceu aos três uma peça da loja "A Reixa" só porque sim. Obrigada, não era preciso, olha que simpático, nem sequer somos de cá, podemos nunca mais voltar.

Não foi por isso, mas regressamos, e da última vez até fiquei a saber que ele é namorado da Eva da "Matrioska" (bastou perguntar se já não vendia roupa de mulher), onde, uns metros à frente (quilómetros?), lá fomos nós outra vez, estavam uns lindos botins vermelhos de uma marca de Barcelona que não conhecia e que trouxe para casa. Não, não os podia ter encomendado online. Mesmo que conhecesse a marca e que soubesse o nome do site, os botins, aqueles botins, não estão lá (já fui ver, claro, e a compra foi perfeita, porque não vi à venda nada que achasse mais genial do que os que comprei).

A sério que não sei como é que o Porto nunca se lembrou disto, lojas não lhe faltam, já nem sequer estão todas concentradas na rua ou no quarteirão de "Miguel Bombarda", e muitas delas apostam em criações nacionais e locais, de designers, criadores de 'crafts' ou joalharia contemporânea. Podem até ter marcas comercializadas mundialmente, mas interessam na mesma: às vezes basta a distância para encontrar o vestido ou o casaco ou o calçado perfeito. Quem é de fora vai mais contente e o comércio agradece. Numa cidade que se diz cada vez mais cosmopolita, onde nos cruzamos com turistas até nas manhãs de domingo cinzentas em que só saímos à rua porque temos de trabalhar, a ideia podia mesmo resultar.

Aparentemente, não custa nada: um mapa, normal, daqueles para turistas, que assinale a localização das lojas. No verso, uma breve descrição do conceito e das marcas. Assim, quando forem à procura de um monumento, da Ribeira, dos Clérigos ou dos Aliados, os turistas sabem que ali ao lado está aquela loja que eventualmente lhes pode interessar. Foi à falta de uma coisa do género que nem com o guia Lonely Planet nas mãos encontrei em Paris o café da fabulosa Amélie Poulin. Dessa vez também andei muito, mas regressei com uns quantos quilómetros perdidos nos pés.

3 comentários:

  1. Eu gosto da ideia e sinceramente podias avançar e trabalhar essa ideia. Acho boa e vendável!

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  2. Obrigada. Já duas pessoas me disseram que talvez alguém esteja já a tratar disso. Aguardemos...

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