O melhor dia de sempre

Foi o melhor dia de sempre, disse ele. Logo de manhã, calor. Sim, hoje podes vestir calções e... sim, podes tirar a camisola e ficar em manga curta. Suprema alegria, andar de manga curta. E calções. Ó mãe, gosto muito de ti. Eu também, mesmo quando não te deixo andar de manga curta porque não está calor para isso. Olha, até vamos deixar a piscina com a água a aquecer, pode ser que à tarde dê para tomares banho cá fora. Hum, parece que arrefeceu, se calhar já não dá. Então vou encher o regador. Está bem. Um segundo depois a manga do casaco estava encharcada. Tira o casaco, põe a secar. Pronto, vamos regar. Mais dois segundos e vou dar com ele a regar os sapatos, era para tirar a terra, mãe, e agora as meias estão todas molhadas. Pois estão, tira as meias, olha, está tudo sujo, molhado e cheio de terra. Eu lavo na piscina, mãe. Está bem. Mais uns canteiros com água e , quando regresso, já era a o chapéu que estava cheio de água, pronto, olha, despe-te e vai para a água, mas se estiveres com frio tens de sair. Este é o melhor dia de sempre, dizia ele, encantado com aquele niquinho de água de uma piscina para bebés. Aproveito e lavo as sapatilhas para secarem ao sol, agora estou com frio, então sai e agora calças estes crocs, vamos ao lanche mãe e filho, corneto de chocolate e morangos, estava prometido. Se não quiseres mais gelado dás-me, está bem, mãe? Está. Vamos lá acabar de regar. Mãe, posso andar descalço? É melhor não, podes-te magoar, mas, caramba, eu também adorava andar descalça. Digo-lhe que é melhor calçar-se mas o problema dos crocs é que saem facilmente dos pés, eu também não insisto muito, a dada altura escorregou, caiu, choro dos grandes, magoou-se a sério, dá para perceber, mas não parece nada até eu descobrir um golpe entre os dedos. Está a sangrar, eu só não desmaio porque sou mãe dele e não posso. Temos de lavar o pé, aliás, tens de tomar um banho completo, se não te der banho já nunca mais te vou conseguir enfiar na banheira. Inspeciono o armário da casa de banho, adesivo há, betadine também, gaze não, toca a ir correr à vizinha pedir o que falta, não há como ter uma tia na casa ao lado. Ai, ai, ai, que dói muito, pois dói, já vai passar. Vamos lá fazer o curativo, ai, ai, ai, arde muito, pois arde, o pior já passou, vamos só por o adesivo, olha, não tem cola, este adesivo deve aqui estar há uns dez ou vinte anos, ficas aí a descansar que vou ver se a tia tem, claro que sim, não há como ter uma tia na casa ao lado. Agora anda devagar, mas qual quê, já estava tudo bem, voltaram os saltinhos, olha que cais, vê lá se te magoas, não andes aos saltos. Afinal não foi nada, ainda bem, ó mãe, vou-te ajudar a fazer o jantar, obrigada filho: tu és, todos os dias, o meu melhor dia de sempre.  

4 comentários:

  1. Tadinho... Ainda bem que foi só o susto :)

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  2. Foi mesmo mais susto do que outra coisa, já não tem nada. Foi sobretudo a aflição de saber que lhe ia arder, fosse a passar por água, fosse a por betadine. Mas foi um "paciente" excelente e depois ainda agradeceu imenso termos-lhe feito o curativo :) é um fofo.

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  3. Foi mesmo mais susto do que outra coisa, já não tem nada. Foi sobretudo a aflição de saber que lhe ia arder, fosse a passar por água, fosse a por betadine. Mas foi um "paciente" excelente e depois ainda agradeceu imenso termos-lhe feito o curativo :) é um fofo.

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  4. Foi mesmo mais susto do que outra coisa, já não tem nada. Foi sobretudo a aflição de saber que lhe ia arder, fosse a passar por água, fosse a por betadine. Mas foi um "paciente" excelente e depois ainda agradeceu imenso termos-lhe feito o curativo :) é um fofo.

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