Música para mães 'cool' (ou só para mim)

Estou a ouvir a playlist Dia da Mãe - Música para mães 'cool' - Uma selecção da blogger Divine Shape (divine shape.blogspot.com) no MEO Music http://meomusic.pt/playlist/JFP4MuVk68_wJj6faeU4KA

O desafio da Meo e do Trend Alert era que eu, enquanto blogger, fizesse uma playlist para o dia da Mãe. O resultado foi esta lista, essencialmente um relato musical da minha experiência como mãe, do meu crescimento enquanto pessoa desde que tive um filho, do amor que sinto por ele, da ligação que temos, da relação com a minha mãe e do que entretanto aprendi sobre ela ou sobre outras mulheres-mães que tive ao longo da vida (somos muitas, na família). 

Ser mãe serviu-me para me tirar todas as certezas. A partir de então, só estou convicta de que terei sempre muitas dúvidas e tentarei fazer o melhor que posso. Em relação ao meu filho e a tudo resto. Deixei-me de verdades absolutas e acho que isso não tem mal nenhum. Todas as que tinha caíram por terra, o meu mundo virou-se ao contrário, fiz tudo o que prometi não fazer ou dizer. Nunca mais disse nunca, pouco depois de ele ter nascido e eu me ter visto com ele no shopping, consciente de ter perdido a conta às vezes em que estupidamente critiquei pais de bebés pequenos que fizeram o mesmo. Era inverno e nenhum espaço público abrigado oferecia a mesma logística para tratar de um recém-nascido. É tão simples quanto isso. 

Depois, há coisas incontornáveis, como ouvir-me e jurar que estou a ouvir a minha mãe com as expressões que, enquanto filha, odiava ouvir e jurava a pés juntos nunca reproduzir. Não há como evitar. Ser mãe confunde-se com a filha que fomos e com a mãe que tivemos. 

Ser mãe não tem comparação com nada, porque é um amor maior do que alguma vez julgamos poder sentir. É tudo o que imaginamos, ou nada do que tínhamos sonhado, mas é sempre mais e melhor. Daí a escolha da música Finale, de Maurice Jarre, do filme Clube dos Poetas Mortos. É um crescendo de sentimento de conquista, vitória, felicidade e orgulho, cada etapa da vida de um filho, cada primeiro sorriso, primeiro passo, primeiro beijo, primeira palavra, o primeiro dente que cai ou primeiras notas na escola.

A espera por ele também não escapou à música: é daí que vem a escolha de "Fico Assim Sem Você", da Adriana Partimpim. A letra só fez verdadeiro sentido para mim quando estava grávida, ansiosa por ter a criança nos braços, a sentir-me como queijo sem marmelada, incompleta, por acabar. Amor I Love You, a música da Marisa Monte que inclui uma citação do livro "Primo Basilio", do Eça De Queiroz, também me acompanhou nos nove meses de gestação.

Quando ao resto, algumas são músicas que ouvi ao vivo enquanto estava à espera da criança: Deanna, de Nick Cave, no Coliseu do Porto, ou Heart Of Glass, dos Nouvelle Vague, no Sá da Bandeira. There is a Light tha Never Goes Out (Morrisey), é o que eu espero ser para o meu filho. Blitzkrieg Bop foi uma das primeiras músicas que ele pediu para ouvir e os Ramones foram a primeira banda que ele soube identificar. Isto, claro, depois da febre dos "Não sei quantos macaquinhos que saltavam no colchão" (título completamente adaptado de uma canção que passava no canal Panda e que ele, ainda no colo, pedia para repetir atirando-se para cima do leitor de CD).

Os The Pogues são a mais recente paixão musical da criança e The Sunnyside of The Street, uma das músicas que tenho de ouvir quase tantas vezes quantas vi o arco-íris do Mickey ou a bola que foi parar à estrada do Noddy, é uma das minhas preferidas - ele, o meu filho, é o meu lado solarengo da estrada e da vida.   

São, no fundo, sons que ouço repetidas vezes, ou que ele também gosta/gostou de ouvir. Com ele ainda no colo, cantei-as e dancei-as como se fossem um tango, de um lado para o outro, com um ar sério que o fazia rir. Também já as dançamos: a  fazer de conta que estávamos numa festa, porque estavamos numa festa (coisas da última passagem de ano), aos saltos, a agitar o corpo, a fazer ginástica (imposição dele) ou deitados no chão da sala a relaxar. 

A isto tudo soma-se "Para os Braços da Minha Mãe". Não sendo particularmente fã do Pedro Abrunhosa, não consegui lembrar-me de uma música que melhor ilustre o que penso quando me falta colo, quando penso na minha mãe, no que nos separa e no que ela está sempre disponível para me dar. 

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