É o fim da tirania. Boa miúdas, juntas fazemos a força!

Os tempos de sacrifício em torno da beleza e elegância foram-se, o futuro passa por sermos quem somos sem vergonhas ou preconceitos e por nos sentirmos confortáveis. Definitivamente, as mulheres disseram não à tirania. Grande parte delas, pelo menos. Uma parte substancial, suficiente para mudar filosofias em designers e marcas de moda. Só assim se explica que, de repente, as sapatilhas de desporto fiquem bem com tudo e apareçam até nos blogs das mais sofisticadas fashionistas. 

É apenas uma moda, como outra qualquer? Pode ser que sim. Mas é preciso ver mais além, e também um pouquinho mais atrás. São cada vez mais as marcas que se querem afirmar pelo conforto. São cada vez mais as empresas que falam na personalização, em produtos práticos e adaptados à vida quotidiana, no regresso aos básicos, no estar bem connosco próprias. A coisa vai até mais longe, com a aposta em solas que massajam os pés (como os Barefooters) ou que se moldam à forma natural dos pés, como se fossem uma almofada anatómica (caso da marca Bernie Mev, que já chegou a Nova Iorque). Até a totalmente avant-garde United Nude, do arquiteto Rem Koolhaas (que desenhou a Casa da Música, no  Porto), parece apostar cada vez mais nos rasos (a coleção deste inverno é uma tentação, não fossem os preços totalmente exagerados e desmotivadores)

E, bem vistas as coisas, talvez este não à tirania que as mulheres foram gritando, primeiro bem devagarinho e baixinho e depois cada vez mais alto, explique como é que, há cerca de 15 anos, comecei a resolver o meu problema em encontrar sapatos de salto raso. Na altura era um achado encontrar um par de sapatos sem salto minimamente engraçado ou sofisticado, agora é o que mais há, difícil é escolher. Boa, raparigas, afinal fazemos a força. 

Claro que há quem possa achar os saltos altos mais confortáveis do que os rasos (conheço vários casos) e mulheres para quem usar stilettos não é sacrifício nenhum. Mas para mim era. Seria, se alguma vez me tivesse atrevido. Quando fui morar para Coimbra, todo aquele empedrado, as subidas e descidas foram suficientes para me deixar desconfortável com saltos medianos e nada estreitos. No Porto, a necessidade de estar pronta para tudo a que a profissão me obriga fez o resto: nada de alturas, quero tudo raso. E depois, a satisfação: estes são mesmo lindos, não escolhia outros, não quero os saltos altos para nada. E ainda a constatação: os saltos altos não são para mim, não são quem eu sou, usá-los é como entrar no corpo de outra pessoa e eu sou mais eu, não preciso disso para nada, é possível ter todo o estilo do mundo com os pés bem assentes na terra.

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