OUT OF MY BOX: Os maridos das outras

Os maridos das outras não são melhores do que o meu. Percebo e rio-me da ironia da música do Miguel Araújo todos os dias, compreendo a ideia de que "o galo da vizinha é sempre melhor do que o meu" e sei que nós, mulheres, somos às vezes um bocadinho chatinhas com os nossos homens (prefiro usar este termo porque, sejamos francas, porque é que os homens podem ser homens, maridos e esposos e as mulheres apenas são mulheres ou esposas? um bocadinho machista, não?).

Compreendo a música mas acho que algumas mulheres da minha geração já estão noutra e já não dizem "vês, fulaninho faz a cama, levanta a mesa, apanha a roupa, passa a ferro, e oferece-lhe rosas e isto e aquilo". Agora dizemos que eles são todos iguais: até nos dão uma ajuda e às vezes até fazem muito, mas outras vezes é um tormento levá-los a perceber o que há por fazer, mesmo quando as coisas (a loiça, a roupa, o cotão no chão, o pó nos móveis, essencialmente) estão ali mesmo à frente a dizer "arruma-me".

Nisto são todos iguais. Exceto o meu: ontem cheguei a casa e estava a roupa apanhada, dobrada e arrumada e o jantar encaminhado, foi ele quem tratou da loiça suja e deitou o miúdo. E teria sido ele a acordar e a levantar-se caso o miúdo acordasse a meio da noite, porque em relação a isso não tenho mesmo razões de queixa.

Mas, se as mulheres modernas já sairam do armário em relação aos filhos (como já escrevi aqui e aqui), falta-lhes fazer abertamente o mesmo em relação aos maridos. Ainda se fala sobre isto de eles serem todos diferentes mas todos um bocadinho iguais em sussurros, assobiando para o lado quando eles não estão ouvir: ninguém gosta que os outros fiquem a pensar que não temos o casamento perfeito, mesmo quando toda a gente sabe que isso da perfeição não é bem assim e que as queixas não são sinónimo de estarmos à beira do divórcio.

Definitivamente, não se fala muito disto nas redes sociais, a não ser um bocadinho no abstrato, como aconteceu no post Dis-"criminação" do blogue da Mãe Apanhada na Curva, ou aqui, no blogue A vida a 4 dimensões, a propósito de dados que revelaram que Portugal é dos países do mundo onde as mulheres mais trabalham dentro e fora de casa. A exceção foi a corajosa Lia Ferreira, num post fantástico que ficou para a história e muita água fez correr na blogosfera.

A questão é que nos prometeram igualdade. Crescemos a ouvir que não eramos menos do que eles, que tinhamos direito a ter uma carreira e que eles tinham de ajudar em casa. Imaginámos, então, um mundo em que ambos trabalhassemos em casa e fora dela, em que tudo fosse partilhado sem dificuldades, dilemas e debates ideológicos. Os nossos pais foram bastante hábeis a desresponsabilizar as raparigas do trabalho doméstico, mas esqueceram-se de responsabilizar os rapazes. 

O resultado é um meio termo difícil de gerir. Mas consegue-se: o meu conselho é "meninas, passem a olhar para o lado quando se cruzam com roupa por arrumar, com loiça suja, ou móveis cheios de pó... encolham os ombros e sigam em frente, as casas não têm de ser nenhuns museus - nisso eles têm razão, nós preocupamo-nos demais.

2 comentários:

  1. Por acaso, já estive para falar dessa música, que tanto furor fez por aí. Acho que teria muito mais graça há uma ou duas gerações atrás. Parece-me velhinha, velhinha...

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  2. Já te disse que és a minha ídola. Aposto que vou adorar esse texto.

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