Cozinhas feias e cabelos despenteados



Agora que deixei crescer o cabelo e cortei a franja, depois de anos e anos (décadas) a usá-lo bem curtinho, só me falta usá-lo mais despenteado, como a Mallu Magalhães. A frase veio-me à cabeça enquanto via este vídeo e confesso que, depois de me deparar com ela assim escrita, me parece bastante despropositada. Podia tê-la apagado, mas estou na fase do "sou capaz de fazer muito do que me apetece sem pensar no que os outros podem pensar".

Para o que aqui importa, o estar despenteada é o mesmo que livrar-me de todo o peso que ainda carrego nos ombros, apesar de, lá está, me sentir bastante Velha e Louca, como na música da Mallu e como a Dora do Locais Habituais

Este velha e louca é no melhor dos sentidos e o cabelo despenteado também. Ao ler a Dora (aqui e aqui), ao ver o vídeo, ao refletir sobre como me sinto muito melhor comigo perto dos 40 do que aos 20, constato que ainda me falta deixar o cabelo despenteado para uma liberdade maior (a plenitude só a devo conseguir lá para os 80, se lá chegar). Apete-me andar com o cabeço fora do sítio para este tranquilo sossego com que enfrento tanta coisa que antes me agoniava e me tirava noites de sono se transforme numa desarrumação despreocupada mais visível aos olhos de todos. Podia ser pior.

Talvez esta preocupação seja apenas o sinal de que ainda me preocupo um bocadinho, mas também isso não me interessa. Não quero ser a menina (senhora?) direitinha e perfeitinha e consigo não perder demasiado tempo com isso. Por agora basta. 

Entretanto, em dois dias fartei-me da Black Friday, essa sexta-feira "inventada" pelos americanos e importada por nós para aproveitar descontos. Ou para gastar dinheiro. As compras são como as cozinhas feias, como escreve a Dora:  "Boa parte daquilo que nos consome são problemas de primeiro mundo. Cozinhas feias, não ter roupa que nos satisfaça, estar cansada das mesmas botas, aborrecer-se no trabalho, esperar numa fila de trânsito, demorar no supermercado por causa da velhinha tagarela que nos antecede na caixa. Problemas de primeiro mundo não são problemas".

Para resumir: não preciso de gastar dinheiro para aproveitar uma promoção, porque a promoção não foi inventada para me fazer poupar, bem pelo contrário. A intenção é criar a ideia de que o melhor é aproveitar o desconto e deixar algum (ou muito) dinheiro da carteira na loja (multipliquem isso por milhares de pessoas e imaginam quanto é que as marcas não lucram), ainda que o armário lá de casa não tenha espaço para mais nada. Estou bem como estou. Enfrentar dias em que o armário cheio parece estar vazio ou sem nada interessante não é um problema. É uma falsa questão, como as cozinhas feias ou as casas desarrumadas. Ou até como os cabelos despenteados. É tão bom estar onde estou, para quê complicar? 

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