O vestido de casamento

Os casamento são um bocado chatos, é preciso dizê-lo. Ao entusiasmo inicial de saber que vamos ter uma festa, começam a somar-se, a dada altura, uma série de irritações. Porque já sabemos que mesmo os casamentos mais divertidos são sempre um bocadinho aborrecidos: igreja, missa, fotografias, copo de água, refeições abundantes e quase sempre exageradas, demasiado tempo numa mesa, demasiada pose, demasiado tempo no mesmo sítio, música de gosto algo duvidoso a convidar para dançar quando a maior parte das mulheres já não aguenta os saltos que cisma em ter de levar para a cerimónia e maridos ou companheiros não são grandes bailarinos.

Pode parecer fútil, e certamente é, mas o que a mim me irrita seriamente a partir de determinado momento é a roupa que vou usar. A que quero usar, a que devo usar (se é que isso existe) e todas as combinações de bijuteria, sapatos, lenços, casacos e pochetes que é necessário fazer. É sempre nesta fase que concluo que odeio casamentos. Inicialmente parece-me tudo simples. Levo um vestido qualquer que já tenho, não me vou por a gastar dinheiro só por causa de um dia, combino com isto e aquilo, vai ser fácil. Ou, então, compro este nos saldos (do ano anterior). Por mais que me custe não vou estreá-lo, deixo-o guardado no armário (foi o que aconteceu). 

Quando me atrevo a tirar a tal preciosidade do guarda-roupa para verificar se tenho tudo o resto e se tudo o resto combina, entro na canseira do veste e despe, experimenta isto, agora aquilo, vamos ver estes brincos, este colar não serve, afinal não gosto, o vestido é demasiado curto, não fica bem com o casaco de cerimónia que já tem para aí dez anos mas que tem de servir para mais esta, estes botões dão cabo de qualquer possibilidade de usar o colar que ficaria a matar com o discreto fio de cor de prata das sabrinas... E a conclusão acaba por ser, sempre, que odeio casamentos. 

Por mais que tente simplificar, ou sobretudo por isso, as combinações depois não resultam, e isso é coisa para me martelar o juízo durante as noites que forem precisas até encontrar a que me agrada. 

E a parte dos sapatos rasos até já é ponto assente, há muito que deixei de ir na na cantiga de 'um casamento merece um salto alto' ou 'esse vestido pede mesmo um stilleto'. Vou aos casamentos dentro do meu estilo, que não inclui os saltos altos. Isso não significa que vá de sapatilhas mas muito menos quer dizer que não vá muito bem apresentada. 

Se o salto alto me deixaria mais elegante? Talvez, Mas para isso precisava de ser outra pessoa. Uma pessoa que soubesse usar saltos, que se sentisse bem com eles. Com saltos altos eu não sou bem eu. Sou alguém parecida comigo enfiada num calçado que não "casa" com mais nada em mim. E a sofisticação não está nas peças, está no conjunto. Se o global fizer sentido, estão o resultado é positivo.

Depois, à medida que a data se aproxima, começam as dúvidas sobre o tempo que fará. Se chove, se faz frio, se vai estar vento (o vento em si próprio é importante, ninguém quer andar com um vestido curto rodado se correr o risco de o ver levantar com o vento), se fará muito calor ou se à noite arrefece. Esta dúvida existe sempre, seja o casamento em que época do ano for. E, mais ainda, quando a meteorologia se virou toda do avesso e nos surpreende a cada passo. Com verões como o do ano passado, por exemplo, em que só me lembro de me saber a calor em setembro. 

Podia ser tudo simples, se não fosse vaidosa e friorenta, mas sou. Talvez por isso, nunca conseguiria ser a noiva. Só a parte do vestido, da meteorologia, do cabelo, da maquilhagem, da manicure e dos sapatos (imagino que os sapatos de noiva devem ser coisa para lá de complicada, acho que nunca vi nenhuns de que gostasse) deixar-me-ia acordada noites a fio. Se, a somar a isto, tivesse de tratar de convites, organizações de mesas, música, catering e confirmações, já estaria doida. 

A verdade é que, quando recebemos a notícia de que alguém de quem gostamos vai casar (casar mesmo, com ou sem igreja, mas com festa a preceito), ficamos felizes. Se, ainda por cima, formos informados do dito apenas como uma partilha da felicidade em que nem se menciona o convite porque ele está implícito, sentimo-nos parte de uma história e da família. Foi o que aconteceu, e apesar de, até hoje, a formalização da convocatória não ter chegado, eu já ando à roda com os vestidos porque na altura tenho de ter tudo pronto. 

Não sou a noiva nem quero ser, mas tenho de ter todos os cenários precavidos. O casaco é importante porque no sítio do casamento o tempo é instável, agosto é mês de nortadas e de fazer mais frio do que em março. Há um ano, na mesma altura, choveu torrencialmente sem estar grande calor (para não dizer que estava frio e que até passei parte da tarde no sofá embrulhada numa manta). A localização e a tradição condiciona os sapatos: a família da noiva deve acompanhá-la a pé (por um caminho de paralelo) até à igreja. Picuinhices minhas, eu sei, mas prefiro isso do que andar cheia de frio ou ter de me descalçar a meio da festa.  

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