WHAT' S IN YOUR CLOSET #30 Lia Ferreira (30epicos40etal.wordpress.com)





Não gosta de usar nada que a aperte e isso implica golas, meias, mangas e sutien, coisa que evita sempre que pode por achar "bestialmente incomodativo". Quem conhece o percurso de Lia Ferreira na blogosfera sabe que ela é brutalmente frontal, e não deixou de o ser nesta 30ª entrevista WHAT'S IN YOUR CLOSET da Divine Shape.

Licenciada em Design de Moda pela Faculdade de Arquitectura de Lisboa, e com um percurso profissional na área da moda e da publicidade, Lia enjoou os estilos absolutos e a moda ainda enquanto estudava. Nada que lhe tire estilo, digo eu. Ela considera que a fase mais criativa no vestuário aconteceu por volta dos 15 anos. Já teve um armário recheado de boas opções, hoje resume-se ao essencial; não tem espaço para mais, desinteressou-se pelo supérfluo e deixou de ter dinheiro para isso. Por isso é que diz que o fundamental antes de sair de casa é lembrar-se de se calçar ou não fazer uma cena digna de comédia como sair sem calças ou saias.

Diz que se preocupa com o que veste mas também veste a primeira coisa que lhe aparece à frente. É o que acontece quando a preocupação com a roupa se resume ao sentido prático e ao conforto. Como todas as que existem no armário de Lia Ferreira cumprem os requisitos, quase que a escolha pode ser feita de olhos fechados. 

1. Qual é o primeiro momento do dia em que pensas na roupa que vais vestir? 
Hoje em dia (e de há uns anos para cá) julgo que só penso nisso no preciso momento em que tenho que vestir alguma coisa. À excepção, talvez, de ocasiões especiais. Mas mesmo nesses momentos tenho tendência para abrir o armário e decidir na altura. Não que tenha um roupeiro recheado de boas opções, nada disso. Já tive, mas hoje em dia tenho a coisa mais ou menos resumida ao essencial. Por um lado não tenho espaço para colecionar peças excepcionais, por outro fui-me desinteressando do supérfluo. Com a agravante de que deixei de ter dinheiro para isso.

2. Preocupas-te com isso ou vestes a primeira coisa que te aparecer à frente?
Ambas as premissas são verdadeiras no sentido em que a minha preocupação com a roupa, hoje em dia, se resume a que seja prática e sirva os propósitos de me manter confortável, quente, fresca ou seca conforme as condições climatéricas. Como não tenho quase peças que não cumpram estes requisitos e mantenho sempre à mão as que estão adequadas à estação, pelo que quase posso escolher de olhos fechados.

3. Qual a tua principal preocupação estética antes de sair de casa? Não sair maquilhada ou ter a certeza de que não te esqueceste de nenhuma peça de roupa fundamental?
Em princípio não me esqueço de nenhuma peça fundamental. Ou seja, fundamental será não me esquecer de me calçar ou não fazer uma cena digna de comédia como sair sem parte de baixo (calças, saias, etc.). Quase sempre uso lenço ou écharpe (ou cachecol) porque me sinto quase sempre desabrigada no colo do pescoço, embora goste de decotes largos porque os justos me incomodam. Aliás não gosto de nada que me aperte: golas, coses de meias, mangas, etc. Fora isso, a propósito de fundamental, detesto usar soutien. Evito sempre que posso. Acho bestialmente incomodativo.

4. Preocupas-te em aplicar cremes, maquilhar-te, pintar as unhas, arranjar o cabelo, etc?
Uso creme hidratante no rosto e no corpo, não arranjo as mãos nem os pés, embora tenha sempre os pés hidratados e sem calos porque não uso sapatos que mos provoquem. Tenho pés de menina mas sem pédicure. Das mãos já desisti. Uso unhas aparadas, limpas, mas nada de verniz. Não aguentam nem 5 minutos. Maquilhagem uso raramente e muito pouca: geralmente só rímel, excepcionalmente traço preto e em alguma situação rara posso fazer make-up completo. Mas isso deve acontecer aí umas duas vezes por ano.Já houve alturas da minha vida em que o fazia mais regularmente.
O cabelo é que é aquilo com que mais brinco. Mudo muito. Tenho muito cabelo, muito forte e volumoso. Demasiado. O que é uma chatice para as ganas que tenho de lhe fazer coisas. Acho que já tive o cabelo de todas as cores e tamanhos. Passo do muito longo ao curtíssimo num instante. E depois sofro quando quero deixar crescer a juba, porque não se doma com facilidade e não me permite uma série de cortes que os cabelos lisos aceitam tranquilamente. Também tenho tendência para fazer os disparates todos em casa, mas ontem entreguei-me às mãos de uma cabeleireira que foi minha colega na faculdade.

5. Qual é o teu estilo?
Curiosamente sempre foi um bocado blasé, digamos assim. Eu sou licenciada em Design de Moda, pela Faculdade de Arquitectura de Lisboa (de um tempo que que os cursos duravam 5 anos para uma licenciatura + 1 para estágio e relatório!). Já nos tempos da Faculdade tinha enjoado dos estilos absolutos e da moda, no sentido lato. Acho que a minha fase mais criativa, ao nível do vestuário, foi por volta dos 15 anos. Aí sim, havia toda uma preocupação com o assunto. Mas mesmo assim optava por uma certa miscelânia de estilos, objectos, etc. Era uma coisa muito pessoal.
Com o passar dos anos fui variando mas dificilmente voltei a andar muito compenetrada na questão. Em alturas em que trabalhei em lojas de roupa aproveitei o facto para vestir, literalmente, a camisola. Fui encarregada de uma Bershka, entre 1999 e 2000, e nessa altura era uma boneca ambulante, parecia vinda do espaço, de cabelo cor-de-laranja, cheia de purpurinas e roupas amalucadas. Diverte-me pensar nisso. Depois passou, quando terminei esse trabalho.
E devo dizer que há muitas coisas relacionadas com o universo da Moda que hoje em dia considero obscenas. Não estou a falar da conotação sexual/erótica, estou a falar de como acho insultuosas em relação à atualidade, à sociedade e até aos direitos fundamentais das pessoas e das mulheres em particular. Mas isso é outra conversa e é muito extensa.

6. Como é o teu armário? Cheio, arrumado, desarrumado, caótico?
Como disse anteriormente, tenho pouco espaço para acumular tralhas, e a roupa ou é usada ou sai lá de casa passado um certo intervalo de tempo. Dou tudo o que vejo que não uso e não quero esperar até voltar a usar (porque a moda é cíclica). Acontece-me algumas vezes pensar em vestir uma coisa que tive e quando vou à procura percebo que já dei… Tenho as coisas bastante organizadas, foi uma característica que fui ganhando com os anos e com a necessidade de partilhar espaço com outras pessoas (namorados/maridos e filhas).

7. Quais as peças/artigos que tens em maior número? Sapatos, vestidos, camisolas?
Partes de cima. Camisolas, t-shirts ou afins. Embora use muitas vezes as mesmas. E conservo calçado durante anos.

8. Como é que escolhes/compras a tua roupa? 
Hoje em dia quase não compro para mim e quando o faço tem a ver essencialmente com a necessidade de peças que cumpram determinada função. Nada mais desinteressante. Nem sei se devem publicar esta entrevista… Não que não gostasse de comprar algumas coisas que vejo mas hoje em dia boicoto-me e não vou sequer às lojas porque não posso comprar. Há poucos anos atrás renovava o guarda-roupa em peças chave para cada temporada mas agora nem isso.
Compro roupa para as miúdas mas também recebemos muita que é oferecida por familiares, o que faz com que muitas vezes a escolha não seja minha. Disso tenho pena, porque a minha opção seria por certo diferente. Mas como aceito a função primordial do vestuário, a de cobrir o corpo e o adaptar às necessidades climatéricas ou do dia, desde que as peças não me firam a susceptibilidade, deixo.


9. Encomendas roupa online? Tem corrido bem ou já tiveste surpresas desagradáveis?
Roupas não, livros sim. :) E tem corrido tudo bem.

10. Qual a tua loja preferida? 
Não sou nada fundamentalista. Por questões práticas e de relação preço/qualidade, geralmente compro o que tenho a comprar na H&M ou na Zara.



11. Qual a tua peça de roupa preferida? - neste momento e de toda a tua vida (algum artigo que tenhas amado perdidamente e que morreu de velho)?
Neste momento acho que não tenho nada em particular. Toda a vida gostei da forma como me assentam os modelos mais clássicos das calças da Levi’s e houve anos a fio em que comprei sempre o mesmo modelo de botas de pelo da Roxy (mas depois alteraram as características da sola que as tornavam únicas e que justificavam o preço). Lembro-me disto em particular.
Também tenho um par de vestidos floridos, iguais mas de cores diferentes, que uso há vários anos e que já passaram inclusive por uma gravidez, mesmo sendo relativamente coleantes na parte do corpo. Mas a malha tem elasticidade e o corte império ajuda, abrindo depois na base da saia.
As únicas sandálias de salto alto relativamente confortáveis que tive, tenho-as ainda, eram da Aerosoles mas comprei-as em Cannes. São bonitas, de tiras de cabedal azul turquesa. Tenho preferência por malas de pele verdadeira, não gosto de napa. O mesmo se aplica aos cintos e calçado. E no verão, embora já esteja farta, não consigo resistir ao conforto de umas Havaianas. Nada supera. Lembro-me agora de uns ténis recentes, da Nike, que me fazem andar nas nuvens, mas são de verão. Parece que ando descalça, de tão leves, flexíveis e ergonómicos. O modelo é o Free.

12. Qual a pessoa (conhecida ou não) cujo visual "invejas"? Gostavas de ser como quem? 
Hum… adoro o estilo da Lena Dunham, precisamente por se estar muitas vezes a borrifar para o assunto e para os estereótipos. Mas é uma admiração que vem de outros fundamentos, refletindo-se depois no visual.

13. Já houve alguma altura da tua vida em que querias vestir-te como alguém? Quem?
Nessa tal altura dos meus 15 anos tinha uma professora de Português que admirava. Achava-a o máximo! O cabelo, o estilo… um dia veio dizer-me que achava muita graça à maneira como me vestia (eu!), ao meu estilo tão pessoal. Fiquei muito embevecida e orgulhosa. Acho que depois disso não tive style gurus. 
Gosto muito de me vestir “à imagem de” mas é no Carnaval. Devíamos poder mascarar-nos umas quantas vezes por ano. Nem mesmo quando fazia Styling para revistas me preocupava em corresponder muito a imagens pré-definidas. Em publicidade, sim, porque o exercício já não é o de criar um estilo próprio mas de recriar o pretendido.

14. Alguma vez saíste de casa sem sapatos, com uma meia de cada cor, com a camisola do avesso ou outro episódio semelhante? Qual?
Camisolas do avesso, sim. Mas também saio algumas vezes à rua de pijama, com um casaco e botas por cima, para passear o cão. Um dia fui com as minhas filhas nos mesmos preparos e acabámos todas de pijama, sem casacos, no parque infantil. Quem nos visse…

2 comentários:

  1. Gostei muito!
    A simplicidade, os comentários despretensiosos e a adequação à nossa actual realidade, sem vergonhas, conferem toda a categoria às "Mulheres - Lia"!
    Parabéns!

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