Dia da mãe. Sim e não, obrigada.

Não gosto da comercialização gerada em torno do dia da mãe tal como não gosto da que foi montada à volta do todos, ou quase todos, os dias de... Todos os dias são de qualquer coisa, mas há uns que são mais do que os outros e o dia dos namorados, o do pai e o da mãe estão, sem dúvidas, no topo do impulso ao consumo. Nem sequer gosto muito de comemorar o meu aniversário (sou uma rapariga de exageros nas expetativas, e são raros os anos em que a realidade as supera), por isso não é difícil (acho eu) perceber que não goste dos dias de... Não gosto sobretudo do Dia dos Namorados, porque embora adore o vermelho enjoa-me andar semanas a ver vermelho em todo o lado. 

Gosto do Dia da Mulher, mas isso é outra questão. Chamem-me "machista" ou "feminista" que eu não me importo. A História está escrita e mostra que, sabe-se lá bem por que razão, as mulheres foram, durante muito muito tempo, subjugadas ao alegado poder masculino. Lutaram, queimaram sutiãs, conseguiram ter direito ao voto, a vestir calças, a trabalhar fora de casa, alcançaram a possibilidade de fazer o que quiserem sem precisar de autorização do pai ou do marido, sim, porque nem a mãe tinha o poder de mandar. Somos iguais a eles, tão capazes como eles, vamo-nos a eles, vamos à vida, e no entanto todo este tempo depois continuamos a ser diferentes, a trabalhar muito mais em casa, a cuidar muito mais dos filhos, a perder sempre mais no emprego. Não estou a falar da minha casa, acreditem. Mas esta é a realidade. Prometeram-nos tudo: trabalho fora de casa, uma carreira, marido, filhos, podiamos ter tudo, e temos, mas o resultado não é tão sorridente como nos foi pintado: trabalhar fora de casa, competir com quem pode estar o tempo todo fora de casa, ficar mais um bocado, ir a correr buscar as crianças, já estou atrasada, eu sei, obrigada por esperar, tratar dos banhos, do jantar, de deitar... são dois trabalhos em um e se formos falar nas tarefas domésticas de quem não tem empregada (lavar, limpar, passar, aspirar, etc, etc, etc), então, meninas, temos três empregos durante um dia. Parece-me que (felizmente) o Dia da Mulher ainda não foi alvo da sanguessuga do consumo (ou isso ou tenho estado tão ocupada a trabalhar que não dei por ela) mas continua a ser alvo de comentários como "Se querem igualdade, para que raio querem um dia delas quando não existe um dia do Homem?". Ora bolas, os homens tiveram os dias de séculos inteiros de poder e subjugação da mulher, deixem-nos lá o nosso dia em paz que não nos estão a fazer nenhum favor.

Tudo isto a propósito do Dia da Mãe. Sim, o consumo. As coisas estão sempre a aparecer-nos à frente. Estão sempre, mas volta e meia têm um propósito. Desta vez é o Dia da Mãe. Eu gostava de receber presentes porque basicamente gosto de presentes mas, filho, eu sei que ainda não sabes ler, mas basta-me um beijo e um desenho dos teus e estamos quites, ok? Basta-me até o que se passou até ao dia de hoje - a tua dedicação e vaidade em fazer-me a prenda da escola, o dizeres-me "não podes olhar" quando te levo à sala (e acredita que não olho), saber que andas a combinar alguma coisa com o pai e que tens conseguido não me dizer absolutamente nada sobre isso. Ser mãe é a coisa mais poderosa do mundo, e talvez por isso os homens tenham tido necessidade de se fazerem passar pelo sexo mais forte. Ser mãe, gerar uma criança, carregá-la durante nove meses e parir são a coisa mais poderosa do mundo e por isso devia ser celebrada por todas as mães com vestidos de cerimónia e garrafas de champanhe. A mim bastas-me tu, filho. E os teus desenhos e um abraço dos teus. "Gostas de mim, mãe?". Claro que gosto. Gosto muito. Como nunca pensei que fosse possível gostar. Fiz por ti coisas que nunca pensei fazer, atravessei barreiras e dificuldades que nunca teria sido capaz de ultrapassar se não fosse por ti. Deixaste-me quase um ano sem dormir, rapaz, a acordar duas e três vezes por noite para te dar leite e no dia a seguir ir trabalhar sabe-se lá como, cheguei a pensar que endoidecia, mas seguimos em frente e aqui estamos hoje, tu com quatro anos, eu com quase 36, gostava de te dar um irmão mas não posso e agora que te vejo assim crescido acho que és tudo que eu podia querer, és muito mais do que alguma vez imaginei. 

Por isso, filho, esquece as diretas e indiretas que tenho deixado no Facebook com sugestões de prendas que sei que me iriam fazer feliz (sim, gosto de coisas bonitas e de presentes, sobretudo de roupa e de jóias, e fico feliz por ter coisas bonitas para usar quando me sinto bonita e feliz, so what?!). São apenas registos de coisas que gostava de ter se pudesse ter tudo. E sei que se estivesse tudo ao meu alcance ficaria cansada de tanto olhar e pensar e combinar esta peça com aquela, por agora fico-me pelo Polyvore que me dá menos trabalho. Esquece isso, este ano e nos próximos, ou no dia que venhas a ler isto, porque estive a pensar seriamente no assunto e o que tornaria melhores os meus dias era, na verdade, uma máquina de café que funcionasse. Mas deixa lá porque o que me interessa mais é mesmo um desenho teu, um beijo, um abraço e um miminho.

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