Consultoria de imagem - a primeira vez

O que nunca mais me vai sair da memória são os olhos dela. Esbugalhados e sorridentes até não poderem mais, quase a entrar pelo espelho adentro, como que a convencê-la do que estava a ver. Ela olhava, sorria, chegava mais perto do espelho, sorria outra vez, dizia "não acredito". No fim, um abraço apertado que eu não pude retribuir porque já estava carregada de sacos para levar de volta para casa. Foi a minha primeira sessão de consultoria de imagem ou mudança de visual, como lhe queiram chamar, e acho que aprendi mais do que ensinei. 

Percebi, por exemplo, que não se consegue mudar o visual de uma pessoa de um dia para o outro. Sobretudo quando, como era o caso, a cliente dizia que tinha de ir devagar, que não podia vestir tudo o que eu sugeria ao mesmo tempo, que tudo junto era muita coisa. Uma túnica, um casaco, botas pretas de salto, olhos com risco verde, um colar multicolor com o mesmo tom de verde do casaco e do risco dos olhos. É muita coisa, dizia ela, não consigo usar isto tudo de uma vez. Eu olhava para ela, para aquele sorriso e aquele brilhosinho nos olhos e senti que aquele look era o que a tinha deixado mais surpreendida e deslumbrada. Mas ela teimava que não podia usar tudo ao mesmo tempo. 

Mudar o visual de uma pessoa é mudar uma vida, não é coisa que se consiga fazer de um dia para o outro. 

Depois mais uma túnica, branca. "Eu, de branco, não acredito". Sim, tu, de branco. Ficou-te a matar, deu-te outra luz à cara, o preto nunca compromete mas também cansa. Passamos então à roupa que estava no armário sem uso. Experimenta esta blusa com este casaco, este colar e estas calças de ganga. "Como é que eu nunca me lembrei disto?". Não te lembraste porque somos todas assim, muito dificilmente conseguimos sair da nossa zona de conforto. Mas depois de o fazermos - believe me - não queremos outra coisa. 

Vim para casa a pensar que ela era eu, há uns anos. Ou melhor, que eu já fui assim, ou ainda pior. Não visto saias, não visto vestidos, não ouso, não experimento coisas novas, não gosto disto, isso nem pensar. Até que me deixei seduzir por um vestido e arrisquei. Era um vestido diferente mas não demasiado. Preto com umas flores brancas no fundo, da TitisClothing. Era diferente mas não chamava muito a atenção, pensava eu. Ainda assim chamou. Ninguém estava habituado a ver-me vestida daquela maneira. Mas eu gostei, senti-me bem, não me incomodou que tivessem comentado o que eu trazia vestido, percebi que me tinha encontrado, que era ali que estava o meu estilo. 

É isso que espero que te aconteça, Sara. Que percas o medo, que te atrevas, que deixes esses olhos brilhar e esse rosto resplandecer. Que percebas qual é o teu estilo e não tenhas medo de o usar. Que não tenhas medo de ousar. Já sei que precisas de tempo. Eu também precisei, e de muito. 

Sim, eu já tinha dado uns quantos conselhos avulsos: "Preciso de um vestido não sei como" - procura ali e acolá. "Quero comprar uns sapatos vermelhos à minha mulher" - olha estes, não são o estilo dela?. "São". Então, ela gostou? "Adorou". Cool. 

Esta foi a minha primeira vez a sério. Foi 'pro bono', porque foi a Sara que ganhou o passatempo aqui no blog. Se mostrasse fotografias talvez angariassem algumas clientes. Acontece que em vez de recolher imagens preferi ficar a olhar para os olhos deslumbrados e para a alegria dela. É também por isso que este post sobre a minha primeira vez como consultora de imagem não tem imagens. O outro motivo é que, na verdade, não há antes e depois imediatos nestas coisas de mudar o visual.  Mas as imagens hão-de chegar aqui à Divine Shape, quando a Sara estiver pronta. 



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