The day after

Que dia estranho, o de ontem. Malditas princesices (não sei se a palavra existe mas também não quero saber, agora fiz 35 e posso escrever o que me der na gana - estou a falar das histórias de princesas que cresci a ouvir e que agora me irritam solenemente porque acreditei durante muito tempo que elas existiam).

O meu dia de aniversário sempre foi, desde pequenina, o único dia do ano em que toda a família se juntava - avós, tios e primos do lado da mãe e do pai, coisa única e irrepetível, por circunstâncias que não vale a pena estar aqui a explicar. Por isso começava a preparar-se a festa dias antes, grandes trabalheiras, tardes inteiras a fazer bolos, a mesa posta cheia de cerimónia, toalha branca bordada, pratos e copos que só se usavam naquele dia, almoço com direito a grande pratada de marisco, toneladas de prendas, porque eram mesmo muitos tios. Com todo aquele aparato, eu sentia-me uma princesa, claro.

Depois fui crescendo e a coisa começou a irritar-me porque eu já tinha vontade própria, não me apetecia nada daquilo, mas o ritual mantinha-se. E eu, adolescente com as hormonas e os sentimentos aos saltos e o egocentrismo no auge, sentia que as pessoas estavam ali mais para comer à grande e à francesa do que para me celebrar. Aquilo era a festa da família, não era a minha festa. A coisa passou-se, entretanto o meu pai morreu e não houve mais.

Mas a sensação de que o dia tem de ser perfeito manteve-se sempre, ainda que ténue e disfarçada. Tanto que, no ano passado, não quis fazer nada a não ser um jantar a três, normal, apenas um bolo bem pequenino para celebrar.

Tudo isto para dizer que o dia do meu 35º aniversário foi do mais parvo que pode haver e teve algumas coisas que não vou querer recordar, ainda que duvide da minha capacidade de conseguir esquecer que passei a tarde quase toda a chorar.

O que vale é que também teve coisas muito boas que vou querer lembrar:
- Amigos de verdade
- Quatro prendas espetaculares (é raro acertarem assim nas minhas prendas - eu sou esquisita e uma insatisfeita, ou exigente, o que lhe quiserem chamar, mas desta vez adorei tudo, foi perfeito)
- O meu filho ofereceu-me uma escavadora para brincarmos na praia (escolha dele), pelo que foi a primeira vez que recebi uma prenda da Imaginarium, com direito a chupa e tudo
- Um assado maravilhoso para o jantar (não fui eu que fiz)
- Um gelado de aniversário em vez de um bolo (fui eu que fiz e estava bem bom)
- Um beijo e um "desculpa-me" que me aliviou o coração.

2 comentários:

  1. Acho que mesmo que nAo se celebre com bolo e família completa, como eu, todos os anos pensamos, queremos, sonhamos, e merecemos que o nosso dia de aniversario seja sobre NÓS, e PERFEITO! E mesmo se for "it's my party i'll cry if i want to..." terá sempre coisas boas e más. O meu pai morreu mesmo junto ao meu aniversario! Pensamentos e sentimentos mistos sempre! Nunca ganhei uma escavadora ;(

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  2. Pois, ontem foi um bocado isso, "it's my party and I cry if I want to". A diferença é que eu não queria ter chorado. Foi por motivos alheios à minha vontade...

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