OUT OF MY BOX: Forever young?

Colestrol alto. Varizes (das internas, que as minhas pernas ainda vão sendo jeitosas, mas as desgraçadas são o suficiente para me deixarem com dores, um peso terrível ao fim do dia, um calor insuportável nos dias quentes de verão). Ansiedade crónica, esta defeito de fabrico (sempre quis tudo para ontem, viver o presente sem pensar no dia, no mês ou nos anos seguintes é uma luta diária). Uma hérnia na cervical. Fisioterapia. Hidroterapia, para ser mais correta.

O cenário é um bocado macabro ou caricato, não sei bem. Adoro as aulas diárias, antes de vir trabalhar, eu, que sempre achei impensável levantar-me mais cedo de propósito para fazer ginástica (hoje até fiz duas, vejam bem) e acho que me tornei fã da hidroginástica. Tento fazer os exercício de olhos fechados (defeito de alguns anos de aulas de yoga), mas quando os abro quase só vejo velhinhos. Têm fraca mobilidade, as peles caídas, ouvem mal, alguns mal se mexem. Chego mesmo a pensar se alguns fazem efetivamente alguma coisa durante a aula, porque até para apertar o sutiã precisam de ajuda (estou a falar das senhoras, claro, que esse é o balneário que frequento). Olho e vejo o esforço, os movimentos torpes, mas admiro-os - a eles e a elas - por estarem ali e não em casa parados.

Eles devem olhar para mim com alguma pena: sou a mais nova das alunas, o que estarei ali a fazer? Pois, tenho uma hérnia, que nos últimos anos tentei ignorar e que nenhum ortopedista se lembrou que pudesse ter. Foram precisos dois anos de dores de costas e meio ano de crises sucessivas para ir a um neurocirurgião que teve logo como primeiro pensamento fazer-me uma ressonância magnética para despistar a presença de uma hérnia. Não despistou coisa nenhuma, ela estava lá. Não sei há quanto tempo, porque nenhum dos vários ortopedistas a quem me queixei se lembrou de tentar saber se poderia ser essa a razão das minhas queixas. Comprimidos e mais comprimidos para nada.

O mal está lá, afeta-me o pescoço, os ombros, os braços e as mãos. E a escrita, coisa que não dá jeito nenhum a quem faz dela o seu ganha-pão. Nada a fazer - a não ser fisioterapia, deixar de pegar no meu filho ao colo, de carregar pesos, de transportar sacos de compras, mesmo os mais levezinhos  (e provavelmente de aspirar e limpar a casa, mas quanto a isso ainda não cheguei lá, estou na fase do caos doméstico total).

Se há uns dez anos me dissessem que chegaria a esta idade neste estado não teria acreditado. Mas, minhas meninas, não somos jovens para sempre. Não são só as rugas e os cabelos brancos que de repente aparecem. É o corpo que começa a refletir tudo o que fomos fazendo ao longo da vida, os anos (ok, as décadas) de postura incorreta ao computador, no sofá, no carro.

Anos de desleixo, de longas viagens a conduzir, saídas à noite, noites mal dormidas, disponibilidade total para o trabalho,  não, não vou usar meias elásticas durante a gravidez porque não me sinto bem com aquilo, costas todas tortas a dar de mamar ao bebé, a mudar as fraldas ao bebé, a pegar no bebé ao colo, a querer carregar o bebé e não sei quantos sacos ao mesmo tempo, a querer trabalhar e tratar do bebé, da casa e do jantar tudo ao mesmo tempo, muitos anos a achar-me a super mulher.

Esta sou eu, Divine Shape, fashion e design lover, trabalhadora precária há quase 13 anos, mãe de um rapaz de quase quatro, filha de professora primária, 34 anos.

3 comentários:

  1. Sentimo-nos novas por dentro... A nossa cabeça ainda pensa como aquela miúda de 18 anos, com as responsabilidades que a vida nos dá.
    Vemos que estamos a ficar mais velhas pelas rugas e cabelos brancos que nos vão aparecendo e pela idade que se mostra no BI mas não é assim que nos sentimos... Pois não?

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  2. Há muitas coisas que melhoram com a idade, como já escrevi aqui: http://divineshape.blogspot.pt/2012/05/35-rocks.html.
    Ontem foi só um dia mau, em que olhei para mim e vi um caco, mas talvez tenha sido de ter feito duas aulas de hidroterapia seguidas. Devia ter louvado a coragem, mas fiquei tão dorida que ainda me deprimiu mais o raio da hérnia :)

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  3. sim, estas coisas do corpo não perdoam. tudo é mais doloroso e difícil de passar. por aqui as varizes e veias rebentadas, pernas inchadas e manchas na cara não são de brincadeira, são a sério. aquela sensação de acordar e ser bonita de cara e corpo lavado, começa a ficar cada vez mais perto de uma memória:D mas podia ser pior, bem pior. as doenças é que são coisas lixadas, enquanto não me baterem à porta vou-me considerando uma mulher de sorte.

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